Impacto das apostas on-line preocupa varejo e aumenta inadimplência no Rio Grande do Sul

Por Jonathan da Silva

O crescimento das apostas on-line, conhecidas como “bets”, tem gerado preocupações no setor varejista do Rio Grande do Sul, afetando o volume de vendas e aumentando os índices de inadimplência. A Federação Gaúcha do Varejo e outras entidades ligadas ao comércio discutem o tema e buscam pressionar o governo federal pela regulamentação e tributação das apostas virtuais, visando mitigar os impactos na economia familiar.

O economista-chefe da Câmara de Dirigentes Lojistas de Porto Alegre (CDL POA), Oscar Frank, destaca que 24 milhões de brasileiros participam dessas apostas, movimentando valores via Pix entre janeiro e agosto de 2024. Frank ressalta que, desse total, 8,9 milhões de participantes do Bolsa Família movimentaram mais de R$ 10,5 bilhões, o que começa a influenciar a inadimplência. “Esse contingente começa a impactar nos níveis de inadimplência do país”, afirma o economista.

Outro fator citado pelo Banco Central (BC) é o impacto da inadimplência no custo do crédito. Segundo Frank, 22% do custo do crédito se refere a financiamentos e operações afetados pelo não pagamento de dívidas em atraso. “Quanto maior a inadimplência, maiores as taxas de juros como um todo, prejudicando a contratação de crédito para investimentos e para o financiamento das famílias”, aponta o especialista da CDL-POA.

O presidente da Federação da Associação Gaúcha do Varejo (FAGV), Vilson Nailor Noer, explica que as apostas em jogos têm gerado prejuízos financeiros e problemas de saúde pública, dado o risco de vício. Ele também observa efeitos negativos no ambiente laboral: “Ao invés de realizar vendas, os vendedores começam a usar o telefone para apostar, causando desorganização no ambiente de trabalho”, avalia Noer.

No Sindicato do Comércio Varejista de Santa Cruz do Sul e Região (Sindilojas-VRP), o tema é discutido regularmente entre diretores e associados. Segundo o presidente da entidade, Mauro Spode, os impactos econômicos e sociais das apostas afetam o desempenho do comércio na região. “Embora Santa Cruz do Sul tenha um dos menores índices de inadimplência do Estado, o custo do crédito, que reflete a inadimplência, já é sentido por aqui”, comenta Spode. O Sindilojas-VRP apoia a regulamentação nacional das apostas on-line e defende maior divulgação de informações para consumidores. “Não somos contra os jogos, mas é preciso que o governo regulamente essa atividade”, afirma Spode.

A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) prevê que as apostas on-line causem um prejuízo anual de R$ 117 bilhões ao comércio nacional. Segundo a CNC, o valor movimentado em apostas no Brasil deve ultrapassar R$ 150 bilhões até o fim de 2024.

Para ajudar a controlar o problema, o Sindilojas-VRP incentiva empresários a abordarem o tema com suas equipes, promovendo conscientização sobre os riscos das apostas. “Mais do que uma questão econômica, o vício em apostas é um problema social que demanda atenção de toda a sociedade”, salienta Spode, relatando que algumas empresas já enfrentam dificuldades com colaboradores impactados pelo vício.

No próximo dia 11 de novembro, o Supremo Tribunal Federal (STF) discutirá a regulamentação das apostas on-line em uma audiência pública em Brasília. A Federação da Associação Gaúcha do Varejo (FAGV) participará do encontro, defendendo medidas de comunicação para alertar os apostadores sobre os riscos e propondo a tributação das apostas. “Não somos contra essas empresas, mas é importante que o setor de saúde pública receba parte dos impostos de atividades que causam impactos na sociedade”, conclui Noer.

Foto: Master1305/Divulgação | Fonte: Assessoria
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