Fecomércio-RS prevê crescimento econômico lento em 2022

Por Ester Ellwanger

A combinação de elevação dos juros, com a incerteza eleitoral e uma massa de rendimentos que não cresce significativamente deve manter o crescimento econômico em ritmo lento em 2022. A forte expansão fiscal e monetária com os incentivos do governo fez com que o PIB voltasse a crescer em “V” (retomada intensa depois de queda rápida na atividade econômica), porém a recuperação ainda ocorre de forma heterogênea entre os setores. Apesar do retorno do volume aos níveis pré-pandemia, o ritmo de crescimento que se observava antes da crise sanitária não voltou a patamares anteriores, já que dados do segundo e do terceiro trimestre constatam estagnação. É o que apontou a análise apresentada pela Fecomércio-RS nesta quinta-feira, 2 de dezembro, na sede da Federação.

O comércio de bens, serviços e turismo foi o setor mais afetado pelas medidas sanitárias de combate à pandemia. Muitas empresas de pequeno porte fecharam suas portas, e aquelas que conseguiram sobreviver ainda não se recuperaram completamente. Houve uma grande concentração no setor, com uma elevação da participação de empresas de grande porte e do comércio eletrônico. Na avaliação da entidade, a tendência de inflação e juros mais elevados limitam a capacidade de compras das famílias, dificultando a recuperação do setor.

Para o presidente da Fecomércio-RS, Luiz Carlos Bohn, a recuperação da economia brasileira e gaúcha depende de uma série de ações dos governos. “Problemas que já estávamos cientes e que projetamos no balanço do ano passado se concretizaram. Cada vez mais vemos o aumento da dívida pública, a alta da inflação e o desequilíbrio fiscal. Nós, como Federação que representa mais de 500 mil estabelecimentos responsáveis por 51,7% do PIB gaúcho, temos o dever de propor soluções e trazer alternativas para conseguirmos projetar cenários de retomada e menor desigualdade econômica”, destaca o presidente.

Câmbio, atividade econômica, inflação, juros e contas públicas

O cenário econômico – com foco em questões como câmbio, atividade econômica, inflação, juros e contas públicas – faz parte da análise apresentada pela Fecomércio-RS no balanço. Sobre o câmbio, observa-se que, desde março de 2020, o dólar mantém uma média alta, uma resposta à elevação da aversão ao risco global (pandemia), à redução dos juros e ao risco de descontrole fiscal no Brasil. O consultor da Fecomércio-RS, economista Marcelo Portugal, que apresentou as perspectivas econômicas para 2022 durante o evento, ressaltou que o câmbio não está seguindo a tendência de crises anteriores, que seria a de recuo após um período de alta.

As incertezas fiscais e eleitorais (além de possíveis apertos monetários em outros países, como os EUA) podem fazer com que a taxa de câmbio responda menos que o esperado à elevação da Selic, mantendo-a desvalorizada. Ou seja, a expectativa é que o dólar siga em um patamar alto em 2022, uma vez que o risco eleitoral gera um risco fiscal para a economia brasileira.
Além disso, a alta da inflação é um fenômeno mundial, ocasionado por uma combinação de fatores como problemas de desorganização produtiva e de mudanças bruscas de padrões de consumo (bens x serviços) causados pela pandemia e pela sequência de lockdowns longos e dessincronizados no mundo, além da forte expansão monetária e fiscal que geraram uma recuperação em “V” (ou mais que V, como nos USA).

No caso do Brasil, os excessos monetários e fiscais de 2020 juntamente com a seca e os problemas de desorganização produtiva geraram uma inflação elevada e persistente. Vale destacar que o IPCA superou os 10% em setembro de 2021 e deverá continuar acima desse patamar até abril do próximo ano, sendo que a queda da inflação só se intensificará no último trimestre de 2022. Para alcançar uma inflação menor no fim de 2022, a tendência é que o Banco Central acelere a alta dos juros já no fim deste ano e no início de 2022. A previsão é que a Taxa Selic chegue perto de 11% nos próximos meses.

2022: Desafios econômicos

Uma preocupação para o próximo ano é o risco fiscal ocasionado pela mudança no Teto de Gastos que retira a âncora fiscal do país com efeitos negativos sobre câmbio, inflação e juros. Isso por conta das alterações propostas pela PEC 23/2021 (em tramitação), que adia o pagamento de precatórios e altera as regras do Teto de Gastos Públicos. A PEC garantiria ao governo calcular o teto para 2022 com a inflação apurada de 2021 mais a estimativa, em vez do IPCA de julho de 2020 a junho de 2021, como exige a regra atual. Com uma inflação prevista de 9,3% neste ano, a expectativa é de um aumento de gastos aproximado de R$ 104 bilhões em 2022, ocasionando o aumento da dívida pública.

A Fecomércio-RS prevê, ainda, que o crescimento do PIB nacional em 2022 seja de 0,9%, enquanto para o PIB do RS a expectativa de crescimento é de 1,4% no próximo ano. Para as vendas no comércio, a projeção é de 1,4% e dos serviços de 1,7%. A inflação medida pelo IPCA deve ser de 5,1%, e os juros devem chegar a 11,75%. Também se estima que o câmbio chegue a 5,70 R$/US$ ao final de 2022.

Conquistas de 2021 e projetos para 2022

Nestes últimos anos, a Fecomércio-RS (Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado do RS) fez a diferença na modulação de projetos de lei que levariam ao aumento de impostos e a outros prejuízos para o setor. Também apoiou as reformas da previdência, tributária, trabalhista, administrativa e as medidas de combate à corrupção. Em 2021, se posicionou a favor da Reforma Administrativa Federal (PEC 32/2020), de projetos de refinanciamento de tributos e de fim do afastamento obrigatório de gestantes do trabalho presencial (aprovados na Câmara dos Deputados), apoiou a PEC relativa ao Teto de Gastos Estadual (aprovada pela Assembleia Legislativa na última terça-feira) e apresentou argumentos para o fim do Piso Regional.

Desde o início da pandemia, a Federação atuou fortemente ao lado dos empresários gaúchos a fim de minimizar os impactos causados pela Covid-19. A entidade construiu um conjunto de protocolos sanitários a serem implementados nas empresas para garantir o seu funcionamento com segurança sanitária. Propôs um protocolo de saúde para que as empresas pudessem abrir com segurança e conquistou o direito de as atividades comerciais operarem com tele-entrega e take away no início da pandemia. Defendeu a negociação do Ecad, a suspensão do ISS e ICMS e, posteriormente, a abertura dos negócios em bandeira vermelha e preta. A entidade também apoiou a aprovação do Pronampe (Programa de Crédito para Micro e Pequenas Empresas), demandou maior autonomia aos prefeitos, com maior flexibilidade por meio da cogestão, e solicitou apoio ao Governo Federal e Estadual para priorização da vacinação dos setores de comércio, serviços e turismo.

O presidente da Fecomércio-RS, ressaltou a atuação da entidade em diversas frentes para enfrentar a crise inédita gerada: “Temos o dever de propor soluções e trazer alternativas para o cenário de retomada. Temos que destacar o nosso trabalho diário. Aqui na Fecomércio, nunca apoiamos medidas de fechamento do comércio. Nossa atuação foi pautada por grandes temas, como a luta contra o aumento de impostos e juros abusivos. Tudo isso feito, sempre mantendo o diálogo com os governos estadual e federal, com o objetivo de manter um cenário favorável ao comércio gaúcho”, destacou Bohn.

Mesmo em um cenário difícil, a Fecomércio-RS entregou ao Estado a “Casa do Comércio Gaúcho”. O novo complexo foi construído em quatro anos, sendo resultado de um projeto estruturado de planejamento e organização da entidade. Além de ser a sede administrativa da Federação, a construção abrigará, a partir de 2022, o Lab Fecomércio – uma incubadora tecnológica que ocupará todo o segundo andar da nova sede da entidade, no bairro Anchieta, em Porto Alegre, e oferecerá a startups todo o ambiente necessário para promover a transformação digital do setor terciário. Os projetos a serem incubados serão escolhidos em colaboração com a Faculdade Senac Porto Alegre (Fspoa) e a ideia é priorizar empresas de micro e pequeno porte, em modelo startup, que tenham produtos ainda em projeto ou que já estejam prontos, mas que precisem de escala.

Ao mesmo tempo, a Federação primou pela sustentabilidade financeira, com um programa de racionalização das despesas iniciado muito antes da pandemia. A Fecomércio-RS aumentou seus resultados financeiros em mais de 200% nos últimos 8 anos por meio da oferta de serviços próprios e, simultaneamente, reduziu as despesas em 55% devido a um trabalho cada vez mais estratégico. Além do equilíbrio financeiro, o Sistema Fecomércio-RS/Sesc/Senac comemorou, em 2021, a conquista da 7ª posição no ranking nacional do Great Place to Work, um grande reconhecimento às práticas de gestão de pessoas.

Foto: João Alves/Divulgação | Fonte: Assessoria

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