Um procedimento de alta complexidade inédito no Rio Grande do Sul para tratamento de câncer no fígado foi realizado pelo Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, no último dia 26 de fevereiro. A técnica, chamada radioembolização hepática com microesferas de Ítrio-90, foi aplicada em uma paciente com colangiocarcinoma — tumor maligno que afeta as células dos ductos biliares.
De acordo com o chefe do Serviço de Medicina Nuclear do hospital, médico Gabriel Grossmann, a técnica é utilizada quando a cirurgia não é uma alternativa viável. “Trata-se de uma radioterapia intra-arterial e seletiva que, ao contrário da convencional, entrega a radiação diretamente nas células doentes, com maior precisão e menor impacto aos tecidos saudáveis. O objetivo é reduzir o volume tumoral, aliviar sintomas e melhorar a qualidade de vida do paciente”, afirma Grossmann.
A aplicação foi realizada pelo radiologista intervencionista Leandro Scaffaro, que administrou as microesferas radioativas diretamente na lesão tumoral por meio de uma injeção intra-arterial. As microesferas liberam radiação local no tumor, com o objetivo de destruir as células cancerígenas e diminuir seu volume.
Etapas do tratamento e critérios de segurança
Antes do procedimento, o paciente é submetido a exames de imagem para avaliar a viabilidade do tratamento. Um radiofármaco chamado macroagregado de albumina é injetado para verificar se existe um desvio da substância — o chamado “shunt” — que poderia direcionar as microesferas para os pulmões. Se mais de 20% da substância alcançar esses órgãos, o tratamento é contraindicado por risco de efeitos adversos fora do local tumoral.
Após a avaliação, uma equipe composta por físicos-médicos, radiologistas e médicos nucleares calcula o volume do tumor e realiza o preparo das microesferas com Ítrio-90. A aplicação ocorre na sala de Hemodinâmica, com a canulação das artérias hepáticas para liberação precisa do material radioativo. No dia seguinte ao procedimento, um exame de PET-CT é realizado para verificar o local exato de depósito das microesferas.
Equipe multidisciplinar acompanha o caso
O tratamento é conduzido por uma equipe multidisciplinar que analisa cada etapa com foco na melhor conduta para o paciente. A paciente submetida ao procedimento apresentou boa evolução e segue em acompanhamento clínico.