Um sistema de cultivo de plantas que não entram em contato com o solo promete ganhar cada vez mais espaço no Rio Grande do Sul e no Brasil. Trata-se da Hidroponia, técnica em que os nutrientes minerais necessários ao desenvolvimento da produção são fornecidos pela água, por meio de uma solução nutritiva. Atenta à relevância econômica e sustentável do setor, que gera baixo consumo de recursos hídricos, possibilidade de uso de defensivos agrícolas orgânicos e redução dos ciclos de produção, resultando em um aumento de produtividade, o Legislativo gaúcho criou a Frente Parlamentar em Apoio ao Cultivo Sem Solo – Hidroponia no RS. Presidida por Issur Koch (PP) e assinada por outros 27 deputados estaduais, a iniciativa é pioneira no Brasil no setor hidropônico e será lançada nesta quarta-feira, 7, às 11h, no Salão Júlio de Castilhos, localizado na Assembleia Legislativa do Estado.
O intuito da Frente Parlamentar, segundo Koch, é incluir a participação do Legislativo no debate sobre a relevância da Hidroponia diante da produção agrícola gaúcha. “Queremos encontrar políticas públicas e buscar caminhos de incentivo, de qualificação de produtores e, principalmente, de valorização dessa cultura, uma vez que o nosso estado é referência para o Brasil e para o mundo na produção de alimentos e que o valor da Hidroponia não está equilibrado nesse processo”, pontua o deputado.
A frente de trabalho é uma Cooperação Tecnológica entre a Plataforma Hidroponia, a Assembleia Legislativa do RS e o Gabinete do Deputado Issur Koch, e atuará em todos os sistemas que não usam o solo para sustentação dos cultivares. Nesse formato, as plantas se desenvolvem em estufas, e suas necessidades nutricionais são supridas por uma solução que circula em um sistema hidráulico.
De acordo com o Anuário Brasil Hidroponia, a estimativa é de que a área ocupada com estufas hidropônicas cresça cerca de 30% ao ano no país. As culturas mais difundidas nessa técnica são de folhosas e tomate, mas produtores também cultivam hortaliças, vegetais, frutos, flores, mudas de arbóreas e forrageiras para alimentação animal. No Sul do Brasil, onde a maior dificuldade são as baixas temperaturas, o cultivo sem solo ganha espaço principalmente porque o plantio fica protegido das variações climáticas como chuva, geada e vento.
Dessa forma, com objetivo de buscar reconhecimento do Poder Público quanto à relevância do cultivo sem solo e, ainda, de criar um ambiente favorável para o debate das práticas hidropônicas, a Plataforma Hidroponia, base de negócios que une os agentes da cadeia hidropônica – a partir do apoio de consultores especialistas no setor – e gera conteúdo informativo sobre a área, atuou no sentido de mobilizar a criação da Frente Parlamentar.
O CEO do “HUB”, Roberto Luis Lange, aponta que a efetivação da iniciativa tomada pelo Legislativo é uma resposta favorável ao setor. “Isso oferece para produtores, fornecedores e pesquisadores da cadeia uma referência de reconhecimento e de expectativa pelas contribuições que o segmento trará para a comunidade do Rio Grande do Sul. Consequentemente, por se tratar de uma ação pioneira, é um exemplo para o Brasil”, afirma.
Ele também destaca o espaço de debate que será criado a partir desse primeiro passo. “Poderemos criar, a partir da liderança de pesquisadores e produtores, um plano de boas práticas para a Hidroponia, além de planos de investimento, linhas de crédito e benefícios para fornecedores, como forma de estímulo para investimentos no setor do cultivo sem solo”, avalia.
Outras vantagens do sistema hidropônico
A estimativa é de que o cultivo de hidropônicos responda por algo entre 35% e 40% do fornecimento de folhas no país, segundo o Anuário Brasil Hidroponia. O sistema tem sido adotado inclusive pelos pequenos produtores, o que contribui para a rápida expansão da técnica. Dentre as vantagens, destaca-se o baixo consumo de água, que pode ser até 95% menor do que na agricultura convencional, dependendo do manejo. Além disso, os produtos de origem hidropônica podem ser considerados de excelente qualidade nutritiva, uma vez que são mais higiênicos, por não terem contato com o solo, e permanecem frescos por mais tempo, pois são colhidos com as raízes.
Outro ponto positivo é a possibilidade de utilização de áreas que não seriam aproveitadas no cultivo convencional, já que a tecnologia de iluminação artificial nas estufas viabiliza a produção em compartimentos fechados, como prédios, garagens e contêineres, por exemplo. Mais um fator importante associado à produção hidropônica é a sustentabilidade ambiental. Nesse sistema, o uso de defensivos agrícolas é reduzido, e as estruturas de produção estabelecidas perto de centros urbanos podem reduzir em até 80% os gastos no transporte e a emissão de dióxido de carbono. Ainda, o cultivo hidropônico é um meio de produção possível de ser instalado em coberturas de prédios, reduzindo o calor dentro dos edifícios e capturando CO2.