Voluntários levam esperança e solidariedade aos desabrigados pela enchente

Por Marina Klein Telles

Eles são heróis anônimos. Eles não são invisíveis, mesmo que pareçam diante do drama e da dor das 180 mil pessoas atingidas ou das 12 mil em abrigos da prefeitura e de entidades parceiras, que perderam tudo ou parte do que tinham em suas casas, empresas e comércios, na maior enchente da história de São Leopoldo.

A corrente formada por grupos de voluntários nos mais diferentes lugares da cidade do Vale dos Sinos, tem levado muita solidariedade e devolvido a esperança. Junto com a Força-Tarefa, eles se somam aos milhares que atuam nos 104 abrigos da Prefeitura de São Leopoldo, nos municípios do Vale dos Sinos e em entidades parceiras.

Somente em São Leopoldo, são 650 voluntários cadastrados trabalhando na linha de frente nos abrigos, fora os voluntários, que por iniciativa própria ou por algum tipo de associação, enfrentaram o perigo das águas da enchente do Rio dos Sinos para salvar as vidas de pessoas e animais, alimentar famílias, cuidar da saúde, auxiliar na limpeza da cidade, dar carinho e conforto, e levar um pouco de alegria com música e apresentações aos albergados.

Resgate e Salvamentos

Até sábado (11), 6.683 pessoas haviam sido resgatadas em bairros nas Regiões Nordeste, Norte, Noroeste, Oeste, Sudoeste e Centro da cidade. Os resgates começaram no dia (1). O pico de salvamentos ocorreu no dia 5 de maio, quando 3.537 pessoas foram removidas de suas casas ou de territórios alagados em São Leopoldo. As equipes também atuaram no resgate de 653 animais no município.

Muitos dos salvamentos ocorreram com ajuda de grupos de voluntários, com seus barcos, caminhões, jeeps e jet skis. O coordenador de produção de uma multinacional, Matheus Soares, e Luan Allgayer, junto com amigos e amigas, reuniram cerca de 50 pessoas do Camarões Futebol Clube: surfistas famosos por enfrentar ondas gigantes (big riders), amigos da cidade e de estados brasileiros, que se dispuseram a ajudar as pessoas e auxiliar em salvamentos, alimentação de albergados, recolhimento de donativos, remédios e roupas.

Desde o primeiro dia, Matheus percorreu o bairro Feitoria, na Independência. Piloto de jet ski, ele resgatou 30 pessoas e alguns animais no bairro Feitoria/Independência. “A gente tem um trabalho social fora das águas, que está sendo disseminado. Chegou apoio de gente de Minas Gerais, Cabo Frio, Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, Bahia, Canela, Gramado, não existe como mensurar, estimar”, conta Matheus.

Eles também fazem trabalho social. “Conseguimos a sede da Associação dos Funcionários do Semae, onde é a nossa base. Estamos apoiando todas as casas, todos os pontos de acolhimento de animais e de pessoas. A gente serve marmitas, doamos remédios, alimentos, comida. Somente hoje (sábado, dia 11) foram mais de 250 marmitas”, afirma.

Matheus foi um dos colaboradores no trabalho de restabelecer o sistema de captação de água do Semae. Ele ajudou na colocação dos flutuadores nos cabos de energia, que possibilitaram a ligação das bombas submersas no Rio dos Sinos para captar água e levar à Elevatória de Água Bruta (EAB) do Semae, no Parque Imperatriz.

“Não custa ajudar o outro”. O motorista Edson Antônio, 74 anos, vive o mesmo drama de mais de 26 mil pessoas da Vila Brás. Está desabrigado há 10 dias e albergado no Centro de Eventos. Ele recorda que na quinta-feira, 2 de maio, teve que sair às pressas de casa, levando as netas e deixando para trás a casa, onde perdeu tudo. Encontrou forças no voluntariado. “Acredito que todo mundo está na mesma situação, não custa ajudar o outro. Ajudo as professoras do abrigo na organização das crianças, dos brinquedos, e procuro levar um pouco de diversão nas brincadeiras”, diz Edson.

“É muito gratificante poder doar um pouco do nosso tempo”. A técnica em segurança do trabalho, Letícia França Lopes, 32 anos, é voluntária na cozinha do Centro de Eventos desde a quarta-feira da semana passada. “Eu estou na parte mais da área da cozinha, na alimentação, café da manhã. Então é muito gratificante a gente poder doar um pouquinho do nosso tempo, ajudando as pessoas que precisam. A gente sente aquela sensação de impotência, de não ver o próximo, ver as necessidades e não poder fazer mais. Então a gente poder doar um pouquinho do nosso tempo é muito gratificante e enche o nosso coração de muito amor”, revela Letícia.

“Não consigo ficar em casa no meu conforto”. A nutricionista, Fernanda Sarmento, 27 anos, decidiu não ficar em casa, ainda mais quando a irmã, que é veterinária, perdeu tudo na enchente. “Não consigo ficar em casa no meu conforto, sabendo que praticamente toda a cidade está num caos, sem nada. Decidi ajudar os animais porque é onde gosto de ficar, onde me encontro. Aprendi desde cedo com a minha irmã que é veterinária. Então estou tentando ajudar os animais da forma que consigo. Fico muito feliz quando eles encontram o seu dono, isso diante de tanta tristeza, é o que me conforta”, resume Fernanda.

Foto: Divulgação | Fonte: Assessoria
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