Depois de dois anos aguardando uma autorização da Anvisa, uma paciente com uma condição cardíaca rara recebeu uma prótese inédita no Brasil em um procedimento realizado no Hospital Moinhos de Vento, de Porto Alegre, em julho deste ano. Luriane Minho, 32 anos, foi diagnosticada com comunicação interatrial (CIA) e hipertensão pulmonar em 2019, condição que afetava seu coração e aumentava os riscos à sua saúde.
O primeiro sinal do problema surgiu em 2019, quando Luriane sentiu uma aceleração anormal dos batimentos cardíacos. Após procurar atendimento em Capão da Canoa, sua cidade, foi orientada a investigar a situação com um cardiologista, que confirmou a presença de CIA, uma anomalia que causa um “buraco” entre os átrios direito e esquerdo do coração. Ao longo dos anos, a condição evoluiu para hipertensão pulmonar, levando a paciente a uma rotina de cuidados intensivos e consultas regulares.
Sob acompanhamento do médico cardiologista intervencionista João Manica, Luriane foi indicada para receber uma prótese com fenestra, específica para sua condição. A prótese necessária, no entanto, não possuía autorização para uso no Brasil, o que motivou Manica a iniciar um processo para obtenção do material através do “uso compassivo”. “Fomos à Anvisa fazer uma solicitação. Ele é um dispositivo comprovado, porém, sem autorização aqui, o que exigiria o uso compassivo. Comecei o processo em 2021. Elaborei relatórios, termos de responsabilidade”, afirmou Manica.
Em janeiro deste ano, a Anvisa autorizou a importação da prótese, doada pelo fabricante para o caso de Luriane. “Eu chorei quando soube. Tive um sentimento muito bom de ter uma expectativa de vida um pouco maior, de poder conseguir fazer planos”, descreveu a paciente sobre o momento em que recebeu a notícia.
Com a prótese fabricada e importada, a cirurgia ocorreu em julho. Segundo Manica, a operação foi rápida, e a paciente teve alta poucos dias após o procedimento. A chefe do Serviço de Cardiologia do Hospital Moinhos de Vento, Carisi Polanczyk, afirmou que o avanço das técnicas na cardiologia tem sido crucial para casos como o de Luriane. “Esse foi o caso da Luriane, que tinha uma doença cardíaca congênita frequente, mas que, para ser corrigida, precisava de uma prótese específica. A persistência da paciente e da equipe fizeram toda a diferença para o resultado positivo para ela”, afirmou Carisi.
Após a cirurgia, Luriane ainda precisará evitar atividades que elevem a frequência cardíaca e deverá manter o acompanhamento médico. Contudo, ela espera que o dispositivo permita uma vida mais ativa e com menos restrições. “Minha expectativa é que a prótese me ajude tanto ao ponto que não precise mais tomar remédio – ou diminua a dosagem – para a hipertensão. Quero viajar, fazer coisas que antes eu não conseguia porque o meu corpo não aguentava”, destacou Luriane.