Psicóloga do CRI fala sobre saúde mental dos idosos na quarentena

Por Gabrielle Pacheco

Já é de conhecimento popular que pessoas acima de 60 anos integram um dos grupos mais vulneráveis ao contágio do novo coronavírus e ao desenvolvimento de complicações pela covid-19. O distanciamento social, medida adotada para frear a disseminação da doença, pode ser prejudicial à saúde mental dos idosos se não for conduzido de forma correta por familiares e cuidadores. De acordo com especialistas, para quem sofre de transtorno mental, como a depressão, a falta da interação com outras pessoas exige cuidados redobrados.

Visando amenizar os reflexos do confinamento da população idosa, a Prefeitura de Canoas, por intermédio da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), elenca os principais pontos relacionados à rotina, atividades diárias, estratégias de abordagem e sinais de alerta que indiquem a necessidade de procura por atendimento especializado. A psicóloga Vivian Glauche Jaroszewski, autoridade em psicologia hospitalar e saúde coletiva, trabalha no Centro de Referência do Idoso do município. Durante a pandemia, ela presta assistência aos canoenses da terceira idade por videochamadas ou ligações através do telefone (51) 3429-2961, de segunda a sexta-feira, das 8h às 17 horas.

Riscos à saúde mental dos idosos gerados pelo distanciamento

O idoso por si só já está em uma fase em que lida com muitas perdas, limitações físicas e cognitivas e, neste período, graças ao distanciamento social exigido pela pandemia, sofre ainda mais com o alto nível de ansiedade gerado. Infelizmente, também houve a elevação considerável da sintomatologia depressiva, do estresse e da ideação suicida, principalmente nos idosos que sofrem também com o distanciamento afetivo. Na população em geral, a cada 14 adultos que tentam suicídio, um realmente vai a óbito. No público idoso, a cada dois que tentam acometer a própria vida, um se suicida.

Além disso, houve registro de crescimento dos casos de violência doméstica, principalmente de mulheres idosas que antes não passavam tanto tempo sozinhas com os agressores.

A importância da participação familiar

A dica primordial é a base de todos os seres humanos, o amor. O distanciamento é mais difícil para os idosos que já sofrem com o isolamento emocional, principalmente por não residirem com o restante da família. Então, sempre que possível, é importante o uso de ferramentas tecnologias, como videochamadas, e um tratamento com amor, alegria, carinho. Estas atitudes farão toda a diferença para o equilíbrio emocional deles. Também é preciso ter em mente a necessidade de respeitar as decisões e desejos deste público. Muitas vezes, a família simplesmente resolve tirar o idoso de casa para ficar mais próxima e isso pode aumentar a sensação de aprisionamento e perda de controle da própria vida.

Já para as famílias que dividem o lar com os mais velhinhos, é recomendável provocar a releitura da realidade com explicações de que permanecer em casa é para o próprio bem deles, não um castigo. Oferecer ao idoso sempre que possível atividades prazerosas com música, dança, contação de histórias geram momentos de descontração e troca de experiências.

Acima de tudo, é o momento da família tolerar um pouco mais e demonstrar com respeito que é tempo de cuidado. A tendência é que muitos idosos, principalmente os que apresentam algum quadro demencial, fiquem mais irritados e ansiosos. Tudo o que se possa fazer para aliviar essas tensões, ao invés de bater de frente, é bem vindo.

Como informar o idoso a realidade sem causar pânico

O ideal é ser o mais transparente possível. Aquele idoso que está com alguma dificuldade cognitiva deve ser informado através do concreto. Nesta hora, vale a clássica pergunta: “quer que eu desenhe?”. Para uma pessoa que tem comprometimento cognitivo, o desenho e a explicação através de imagens facilitam o entendimento.

Na medida do possível, não é ideal plantado na frente da televisão o dia inteiro, consumindo notícias alarmantes ou de tragédias. A informação deve ser mais preventiva, explicando como se contrai o vírus, a importância do uso da máscara, o quanto o álcool gel ajuda a proteger da doença. Os cuidados que já adotamos de segurança e higienização devem ser passados de forma clara e transparente.

Atividades físicas e meditação

Se, antes da pandemia, o idoso possuía alguma rotina de atividades físicas ou ginásticas em grupo, romper com essa prática pode ser prejudicial e ampliar a sintomatologia depressiva. Já que sair para a rua é perigoso, a família pode procurar vídeos na internet de exercícios simples para realizá-los dentro de casa. Também é um ótimo momento para gerenciar o estresse através da meditação. Todos os integrantes do lar podem se mobilizar e participar da atividade para que todos aliviem suas tensões.

Sinais de preocupação

É importante que cuidadores e familiares se atentem ao primeiro sinal de tristeza, desânimo, pensamentos negativos e desesperanças. A ideação suicida não vem muitas vezes de forma clara ou através de avisos de que pretendem se suicidar. Na maioria das vezes, os idosos não querem demonstrar fragilidade e escondem o sentimento de que só estão causando transtorno ao restante da família. É imprescindível a família ficar atenta com falas do tipo “estou cansado de viver” ou “estou aqui só para incomodar” e que levem a sério o comportamento.

Sempre que necessária, a procura por ajuda especializada é altamente recomendada. Aos idosos que são sozinhos e sofrem de privação afetiva ou desejo de tirar a própria vida, é sugerido que procurem o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) de sua região ou liguem gratuitamente para o número 188 (Centro de Valorização da Vida)

Centro de Referência e Clínica de Saúde do Idoso

A Clínica de Saúde do Idoso, inaugurada em setembro de 2019, oferece todos os serviços de uma Unidade Básica de Saúde (UBS), com atendimentos clínicos gerais e de enfermagem, promoção da saúde, prevenção de doenças e assistência nos casos de hipertensão; diabetes; bronquite; enfisema; gripes e resfriados; diarreia; dor de cabeça, de fraca a moderada intensidade; e sintomas urinários.

Localizada na avenida Guilherme Schell, nº. 6184, no centro de Canoas, a estrutura também abriga o Centro de Referência do Idoso (CRI), que oferece serviços especializados e humanizados, como a assistência emocional. Quando chegam, seus pacientes passam por uma avaliação prévia da enfermeira, que avalia todas as vulnerabilidades, tanto sociais, emocionais, cognitivas como nutricionais. A partir desse escaneamento, a equipe multidisciplinar é avisada e dá, então, o devido cuidado. Também há terapeuta ,que trabalha com estímulo cognitivo e a educadora física para manter o idoso com melhor qualidade de vida.

Foto: Divulgação | Fonte: Assessoria
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