Que abelhas produzem mel não é segredo para ninguém. Mas que elas são responsáveis pela preservação da natureza para a sustentabilidade da vida humana pode ser novidade para muitos. Além disso, que elas visitam as flores para coletar alimento e, assim, polinizam, promovendo a formação de frutos e sementes e permitindo a perpetuação de plantas e a alimentação animal talvez nem todos saibam. Pensando nisso, pesquisadores do Centro de Diagnóstico e Pesquisa Florestal (Ceflor), localizado em Santa Maria, e do Centro Estadual de Diagnóstico e Pesquisa Agronômica (Ceagro), em Porto Alegre, da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi) estão desenvolvendo o projeto “Abelhas nativas não fazem mal, fazem mel e muito mais”.
A finalidade do estudo, que tem a coordenação da bióloga Rosana Matos de Morais e parceria com a Fundação Antônio Meneghetti, de São João do Polêsine (que incentiva a cultura e a pesquisa), é aproximar crianças e jovens do mundo dos meliponíneos (abelhas nativas ou sem ferrão). “Para isso, prevê como ferramenta de trabalho-ação a elaboração de materiais didáticos, em formato de um livro e um vídeo, direcionados a estudantes da educação infantil e do ensino fundamental, sobre a temática das abelhas nativas do Rio Grande do Sul”, explica Rosana.
Ela conta que existem as abelhas exóticas com ferrão Apis mellifera, cuja criação é denominada de apicultura. Porém, em áreas tropicais do planeta, há um grupo de abelhas que não possui um ferrão funcional, e são conhecidas como abelhas nativas, indígenas, abelhas-sem-ferrão ou meliponíneos. “No Brasil, são descritas aproximadamente 250 espécies de abelhas-sem-ferrão e, no Rio Grande do Sul, 24, sendo as espécies conhecidas por seus nomes vulgares de manduri, tubuna, irapuá, jataí, mirim, bieira e mandaçaia, entre outros”, comenta a pesquisadora.
A partir da primavera, os alunos de todas as escolas interessadas ainda poderão ter um contato mais próximo com as abelhas por meio de uma visita ao Meliponário e um passeio pela rota dos ninhos naturais dos meliponíneos nos bosques do Ceflor. “As atividades propostas visam oferecer instrumentos didáticos que promovam a valorização das espécies de abelhas nativas sem ferrão e a importância da preservação da natureza para a sustentabilidade da vida humana”, destaca Rosana.
Ela acredita que a educação e a sensibilização podem contribuir para a conservação das abelhas, com vantagens para meio ambiente e seres humanos. “As abelhas-sem-ferrão são excelentes como instrumento didático, pois atraem a atenção, aguçam a curiosidade das crianças e estimulam um imaginário lúdico que todos temos, da relação flor-abelha”, avalia a pesquisadora. “Com elas é possível trabalhar a ecologia dos insetos, a história relacionada a povos indígenas, a geografia na distribuição das diferentes espécies nos biomas – além de, principalmente, inserir a problemática ambiental da preservação da biodiversidade.”
Nesse contexto, conforme Rosana, a saúde humana também pode ser abordada, tendo em vista que a polinização é o serviço ecossistêmico realizado pelas abelhas e essencial para a existência da maioria dos frutos que consumimos. É o caso da maçã, do melão, do maracujá, do tomate, da goiaba e do morango, entre outros.
“Ao transmitir a informação de quão importante são as abelhas para nossas vidas e para toda a natureza, estaremos conscientizando as futuras gerações sobre a necessidade de sua proteção como um todo e de seus serviços ecossistêmicos”, destaca Rosana. “Além disso, mesmo em menor escala e ainda pouco usual em nossas casas, é possível o manejo das colmeias de abelhas-sem-ferrão para a produção e a comercialização do mel, do pólen, da própolis e de enxames. Vale citar também sua utilização para o paisagismo, que pode servir ainda como geração de renda para pequenos agricultores e futuros empreendedores.”