Procuradoria Especial reúne mães de crianças com autismo em busca de políticas públicas de apoio

Por Marcel Vogt

As histórias distintas de vida se interligam como um quebra-cabeça nos pontos que tratam de sobrecarga física, emocional e medo, sensações que acometem toda família que recebe o diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA) ao buscar uma resposta para características dissonantes de seus filhos. Preocupada com a ausência de rede de apoio às mães que dedicam sua trajetória aos cuidados de crianças, adolescentes e adultos com o distúrbio neurológico, a Procuradoria Especial da Mulher da Câmara de Novo Hamburgo reservou a tarde da última terça-feira (18), para debater o tema “Quem cuida de quem cuida?”, trazido a público pelas painelistas Isa Reichert, arteterapeuta, Jaque Raffler, advogada, e Natália Magalhães, musicoterapeuta e presidente da Associação de Musicoterapia do RS (AMT-RS). Realizada no Plenarinho do parlamento municipal, a iniciativa foi louvada pelos presentes, em sua maioria mulheres que vivenciam diariamente os desafios de educar e proteger seus filhos e parentes autistas.

Devido à repercussão positiva do bate-papo entre o público participante, o encontro deve ser repetido em breve no intuito de auxiliar as famílias que enfrentam as dificuldades de conclusão de diagnóstico, atendimento e compreensão da sociedade.

“As participantes que assistiram à atividade disseram que se encontraram através dos depoimentos e das falas das palestrantes. Tive a certeza de que nós devemos promover mais esse tipo de evento, de apoio às mães que têm filho com autismo. As pessoas que aqui vieram saíram radiantes, e elas nos cobraram o retorno do próximo evento. Não vamos parar por aqui”, avaliou a vereadora Lourdes Valim, titular da Procuradoria da Mulher.

Para Isa Reichert, mãe de Indiara, de 10 anos, filha adotiva diagnosticada com autismo, ações dessa natureza ajudam outras famílias a perceberem que não estão sós. “Eu entendo que ser mãe atípica nos tira de muitas possibilidades financeiras, inclusive. A gente abdica muitas vezes da nossa profissão para estar com as crianças. Isso tudo implica e impacta justamente os tratamentos que a gente precisa oferecer para eles. O Estado oferece possibilidades, mas ainda é pouco”, afirmou Isa, que deixou para trás uma carreira bem-sucedida como fotógrafa e optou por tornar-se arteterapeuta para acompanhar Indi, como a chama carinhosamente, em tudo que fosse necessário para ajudar no seu desenvolvimento.

Assim como Isa, a advogada Jaque Raffler entende ser urgente um olhar atento ao autismo no município. “O balanço do encontro foi extremamente positivo. Poderíamos ter reunido mais pessoas, mas ainda é o primeiro passo. Grandes projetos começam de uma forma mais lenta. Novo Hamburgo precisa evoluir muito”, analisou a mãe de João, de 3 anos, autista não verbal, que, devido a outras questões de saúde, precisou ser submetido a diversas cirurgias e cuidados redobrados de seus pais para conseguir sobreviver desde seu nascimento.

Na abertura do evento, a servidora da Procuradoria Carolyne Andersson trouxe uma notícia que deu um pouco de alento às mães presentes ao Legislativo. Conforme informação confirmada pela administração municipal, Novo Hamburgo está entre as três cidades da região que terão recursos para a implantação de um Centro de Atendimento em Saúde (CAS) do Programa TEAcolhe, do governo estadual. Ao todo, foram selecionados 20 projetos em cidades gaúchas. A unidade hamburguense funcionará junto ao Centro Especializado em Reabilitação (CER IV), no bairro Rondônia. Os atendimentos, cuja meta mínima será de 1,2 mil consultas mensais, serão encaminhados via unidades básicas de saúde (UBSs).

Esse avanço, segundo Jaque, precisa estar associado a outras políticas públicas para atender a contento a população da cidade. “O Município se credenciou para ter um centro de referência do autismo, mas as consultas ainda são em um número muito pequeno. Os atendimentos seriam de 150 usuários mensais, se não me engano. Novo Hamburgo, pelo que a gente tem registrado de autistas que possuem a carteira de identidade, são mais de 600 meninos e 283 casos de meninas”, informou a advogada, que defende o acolhimento em saúde e a inclusão das crianças na rede de ensino de forma respeitosa e atenta às necessidades.

Foto: Divulgação | Fonte: Assessoria
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