As relações de trabalho no Brasil serão cada vez mais impactadas pela transição demográfica, um fenômeno que resulta do crescimento populacional em declínio e do envelhecimento da população, de acordo com o superintendente regional do Sesi-RS, Juliano Colombo. O tema foi abordado durante o evento Prato Principal da ACI, realizado na quinta-feira (24).
Colombo explicou que a expectativa de vida no Brasil está aumentando, enquanto a taxa de fecundidade, que indica o número de filhos por mulher, está em queda. Esses fatores resultam em um crescimento populacional menor. Ele citou que a taxa de crescimento populacional anual caiu de 1,93% entre 1980 e 1991 para 0,52% entre 2010 e 2020, uma diminuição de 73%.
A população brasileira também está envelhecendo. De acordo com dados do IBGE, o número de pessoas com 65 anos ou mais para cada 100 crianças de 0 a 14 anos era de 14 em 1991, subindo para 55 em 2022, com a projeção de chegar a 104 em 2040. Além disso, a população está se tornando mais feminina, com uma relação de 97 homens para cada 100 mulheres na faixa etária de 25 a 29 anos em 2022.
Colombo observou que a população em idade ativa parece ter atingido seu pico e projetou que, a partir de 2030, o número de idosos deverá aumentar progressivamente no Rio Grande do Sul. Ele mencionou que, nesse ano, deve haver 79 dependentes (pessoas de 0 a 14 anos e 65 anos ou mais) para cada 100 pessoas em idade ativa (14 a 64 anos). “O esgotamento do bônus demográfico do Brasil faz o país envelhecer antes de enriquecer, e o crescimento econômico não ocorrerá mais organicamente com o aumento da força de trabalho”, afirmou o palestrante.
Para enfrentar a estagnação econômica, Colombo enfatizou a necessidade de melhorar a produtividade da força de trabalho existente e ampliar a faixa etária considerada economicamente ativa. Ele destacou que, no Rio Grande do Sul, há 795 mil trabalhadores sem ensino básico completo, dos quais 275 mil atuam na indústria. Além disso, dois terços dos jovens cursando o Ensino Médio não alcançam as habilidades básicas necessárias para participar da economia moderna.
Colombo salientou que a transformação da educação é essencial e passa pela escola pública, que teve 77,9% das matrículas na educação básica em 2023. Ele defendeu a elevação da escolaridade, o desenvolvimento de habilidades e a ampliação do acesso à educação pública como pilares fundamentais para o desenvolvimento de talentos.
Ele também abordou a segurança no ambiente de trabalho, mencionando que a concessão de auxílio-doença caiu de 356 mil em 2008 para 148 mil em 2022. No entanto, destacou que os trabalhadores ainda adoecem devido a outros fatores, com um aumento significativo na concessão de auxílio-doença por fatores previdenciários, com aumentos de 11x em 2019, 31x em 2020 e 13x em 2022.
Colombo destacou ainda as responsabilidades de cuidado, que afetam diretamente a participação das mulheres na força de trabalho. Ele mencionou que as tarefas de cuidado não remuneradas equivalem a 12% do PIB do Brasil em 2022, impactando a capacidade de aprimoramento dos trabalhadores. “Estamos diante de uma crise do cuidado, que exige políticas que reconheçam, reduzam e redistribuam essas responsabilidades”, disse.
O palestrante concluiu ressaltando que o setor público deve investir em políticas de cuidado, como licenças e creches, e que o setor privado deve considerar essa tendência em suas estratégias para atrair e reter talentos.