O Rio Grande do Sul vem consolidando um ecossistema de inovação em alimentos por meio de agritechs e foodtechs, que conectam o campo ao consumo final. O movimento, que envolve startups, indústrias e centros de pesquisa, foi destacado por especialistas do Sebrae RS ao apontar como a diversidade produtiva do estado e o investimento em tecnologia são fatores decisivos para agregar valor e competir em mercados nacionais e internacionais.
Segundo o gerente de competitividade setorial do Sebrae RS, Augusto Martinenco, o estado se diferencia pela variedade de culturas. “Enquanto outros estados concentram a produção em poucos itens, nós atuamos com grãos, leite, pecuária de corte, horticultura, dentre outros. Isso nos permite olhar cada vez mais para produtos premium, capazes de competir pela diferenciação e não apenas pela escala”, explicou Martinenco.
Para o dirigente, a modernização agroindustrial é o caminho para manter a competitividade. “Se não temos a mesma capacidade de produção em larga escala de outros estados, precisamos apostar em tecnologia, modernização e criação de novos produtos. É isso que nos permite competir em mercados nacionais e internacionais tão acirrados como o de alimentos e bebidas”, reforçou Martinenco.
Transformação do setor de alimentos
De acordo com a gerente regional do Sebrae nos Vales do Taquari e do Rio Pardo, Liane Portantiolo Klein, as foodtechs representam uma mudança estrutural. “Uma foodtech não apenas produz ou vende comida. Ela transforma a forma como o alimento é criado, distribuído, consumido e até descartado. Isso impacta diretamente os hábitos de consumo e fortalece todo o ecossistema de alimentos”, afirmou Liane.
Entre os exemplos citados pela gerente estão a Bioplix, deep tech da UFRGS criada em 2021, que desenvolve revestimentos comestíveis biodegradáveis para prolongar a vida útil de frutas, legumes e verduras, e a Weecaps, incubada na UFSM, que utiliza microencapsulação de ingredientes bioativos, como probióticos e vitaminas, para gerar alimentos funcionais com valor nutricional agregado.
Desafios e oportunidades
Apesar do crescimento do setor, ainda existem barreiras a serem superadas, como a regulação, o acesso a investimentos e a necessidade de maior integração com grandes indústrias. “Nosso estado tem terreno fértil para bioinsumos, rastreabilidade e cadeias mais sustentáveis, mas é preciso ampliar as pontes entre startups, empresas tradicionais e mercado consumidor”, apontou Liane Klein.
O especialista em mercado de alimentos e bebidas do Sebrae RS, Roger Klafke, destacou que a cadeia pode ser compreendida em sete etapas — da produção primária ao descarte. “Cada uma delas representa uma chance de reduzir desperdício, agregar valor e aproximar produtores e consumidores”, comentou Klafke.
Casos práticos de inovação
O especialista também mencionou os pilares que sustentam o setor: agricultura, ciência e transformação dos alimentos, logística e distribuição, e tecnologia aplicada ao consumo e à saúde. “Mais do que startups isoladas, falamos de um ecossistema em que pesquisa, ciência e mercado trabalham juntos para levar alimentos de qualidade, sustentáveis e inovadores até a mesa do consumidor”, acrescentou Klafke.
Um dos exemplos é a Hortti, plataforma digital que conecta produtores e varejistas de hortifrúti com soluções em logística, rastreabilidade e gestão de pedidos. Para Klafke, o case demonstra como o estado une pesquisa e inovação para criar alternativas práticas em toda a cadeia agroalimentar.

