Pró-Sinos divulga relatório do monitoramento espacial de janeiro

Por Amanda Krohn

O Consórcio Pró-Sinos divulgou os dados de janeiro do Programa de Monitoramento Espacial, ferramenta que verifica as condições das águas do Rio dos Sinos em 24 pontos representativos. O levantamento mostrou a habitual diferença de valores na qualidade da água entre as porções 1 e 2 da bacia, causada pelo lançamento de esgotos não tratados nos cursos de água, que ocorre nas regiões densamente habitadas.

O IQA calculado manteve-se com bons valores. O resultado pode ser atribuído à manutenção de uma vazão regular, adequada para o período do ano, mas pequena devido à estiagem

Segundo o diretor-técnico do consórcio, Hener de Souza Nunes Júnior, em janeiro foi constatada uma boa qualidade nos pontos da Porção 1. “O IQA calculado manteve-se com bons valores. O resultado pode ser atribuído à manutenção de uma vazão regular, adequada para o período do ano, mas pequena devido à estiagem”, informa. Segundo o diretor, como sempre ocorre nessa época do ano, o pequeno volume de chuvas faz com que os pontos mais próximos das nascentes apresentem uma boa qualidade: P1, P2, P6, P9, P11 e P12, todos na região denominada Alto Sinos. Os demais pontos da Porção 1, complementa o diretor, apresentam qualidade “regular” da água, transparecendo o efeito dos esgotos urbanos, lançados sem tratamento nos cursos de água, à medida que estes passam pelas regiões mais densamente ocupadas.

Na segunda porção, de acordo com o diretor, a qualidade da água apresentou oscilações, tendo alguns pontos com melhora no IQA, e outros, com piora. “Não é possível indicar uma tendência a partir da simples observação dos resultados, mas pode-se constatar que eles se mantiveram dentro de valores característicos, sem afastamento significativo da média”, aponta. O ponto que causou surpresa, acrescenta o diretor, foi o P20, em Sapucaia do Sul, onde registrou-se uma boa qualidade (IQA levemente acima de 70), o que já é motivo de satisfação, uma vez que essa é a primeira vez que um ponto da porção 2 apresenta essa condição desde que o monitoramento foi iniciado, em setembro de 2019.

Já nos pontos monitorados pela Prefeitura de Esteio, os valores de IQA também apresentaram comportamento regular, sem valores discrepantes daqueles encontrados em medições anteriores. “Merece atenção o resultado encontrado no ponto SAP 5, junto da ponte da Av. Presidente Vargas sobre o Arroio Sapucaia, que indica IQA 23,2, considerado muito ruim”, alerta o diretor

O monitoramento

Mensalmente, o Consórcio Pró-Sinos monitora nove parâmetros de qualidade da água em 24 pontos representativos da Bacia do Rio dos Sinos. A partir desses parâmetros – Coliformes Termotolerantes, pH, Nitrogênio, Fósforo, Oxigênio Dissolvido, Demanda Bioquímica de Oxigênio, Temperatura, Turbidez e Sólidos Totais – é calculado o Índice da Qualidade da Água (IQA), um número que permite uma avaliação genérica, mas significativa, das condições da água no local.

O IQA é avaliado em uma escala que varia de zero a cem, sendo os valores mais baixos indicativos de uma qualidade muito ruim e valores mais altos, indicativos de boa qualidade. A equipe técnica do Pró-Sinos acompanha esses dados mensalmente. São informações relevantes, que podem servir de alerta e apoiar tomadas de decisão e ações. O mapa interativo e o relatório completo do monitoramento estão disponíveis no site do Consórcio.

Quadro explicativo

O exame dos valores obtidos para o IQA nos diversos pontos monitorados permite segmentar a bacia em duas porções: áreas com baixo adensamento populacional, mais próximas das nascentes do Rio dos Sinos e de seus afluentes, e áreas com alto adensamento populacional, mais próximas da foz. Na primeira porção reunimos os pontos de P1 a P12. Na segunda, os pontos de P13 a P25. Conforme temos indicado, na segunda porção somam-se os despejos de esgoto não tratado, vindos das áreas urbanas da primeira porção, aos esgotos das áreas com população altamente adensada, para onde o Rio dos Sinos escoa. A qualidade da água nessa segunda porção é bem mais baixa.

Caso verificado em Campo Bom

Embora o relatório seja referente a janeiro, é importante e oportuno chamar atenção para o caso verificado no trecho do Sinos que passa pelo município de Campo Bom no final da última semana (dias 16 e 17 de fevereiro), quando foram encontrados peixes mortos. “Isso decorre de uma situação típica. Até o dia 14 de fevereiro enfrentava-se uma estiagem severa, característica dos meses de verão na região da bacia do Rio dos Sinos. O pequeno volume de chuva no período permitiu que os esgotos se acumulassem, retidos, em grande parte, nas tubulações das cidades. Na tarde do dia 14, houve uma forte precipitação, causando enxurradas em muitos locais. O grande volume de água, concentrado em pouco tempo, inundou as tubulações de esgoto, arrastando todo o material retido até aquele dia”, explica o diretor-técnico do Pró-Sinos, Hener de Souza Nunes Júnior.

De acordo com o diretor, esse material, essencialmente orgânico, em estado de putrefação, foi levado aos arroios e despejado no rio de forma concentrada. A partir disso, o rio, com pouco volume de água por causa da estiagem, teve uma carga quase instantânea daquela matéria orgânica revolvida pelo turbilhonamento da água. “O resultado foi uma rápida elevação no consumo de oxigênio, absorvido nos processos de decomposição da matéria orgânica. Esse oxigênio foi retirado da água, tornando difícil a respiração dos peixes e matando muitos deles por asfixia”, explica. Na avaliação do diretor-técnico do Pró-Sinos, essa é a causa mais provável para a mortandade de peixes observada nos dias 16 e 17. Nos dias seguintes a situação voltou a se regularizar e cessou o aparecimento de novos peixes mortos. “Mais uma vez ficou demonstrada a necessidade urgente de tratamento dos esgotos urbanos. Não estamos livres de ocorrerem certas condições semelhantes que levem a uma mortandade de peixes ainda maior no futuro”, completou.

Fotos: Divulgação | Fonte: Assessoria
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