Um estudo conduzido pelo Hospital Moinhos de Vento, de Porto Alegre, no âmbito do Programa de Apoio ao Desenvolvimento do Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS), já coletou 81% das amostras previstas para avaliar a prevalência da tuberculose pediátrica no Brasil. A pesquisa, iniciada em 2021, busca aprimorar o diagnóstico da doença, que é subnotificada em crianças devido à dificuldade de confirmação bacteriológica e à semelhança dos sintomas com outras infecções respiratórias.
A pesquisa ocorre em 22 centros distribuídos nas regiões sul, sudeste, norte e nordeste do país. A coleta de dados de crianças e adolescentes hospitalizados com problemas respiratórios já foi concluída, e o recrutamento de pacientes ambulatoriais com suspeita de tuberculose segue em andamento. Entre as cidades gaúchas participantes estão Porto Alegre, São Leopoldo, Novo Hamburgo, Sapucaia do Sul, Viamão, Cachoeirinha e Passo Fundo.
Para melhorar a precisão do diagnóstico, o estudo emprega a técnica de escarro induzido, método aprendido na África do Sul, que melhora a qualidade das amostras coletadas, reduz custos e aumenta a segurança do procedimento. “O escarro induzido pega secreções das vias respiratórias inferiores, permitindo uma melhor detecção da tuberculose pulmonar, especialmente em crianças e pessoas com dificuldades em produzir escarro espontaneamente. Com essas amostras conseguimos ver se a pessoa tem a bactéria, mesmo em menor volume de material coletado”, explica o infectologista pediátrico do Hospital Moinhos de Vento, Marcelo Scotta, que participou do treinamento na África do Sul.
Até o dia 18 de março deste ano, foram realizadas 2.545 coletas de escarro induzido. A pesquisa está no segundo triênio (2024-2026) e a previsão é de que os estudos sejam finalizados no ano seguinte.
Comparação de exames
Além da prevalência da tuberculose pediátrica, o estudo investiga, por meio do projeto GTX, diferentes estratégias de rastreamento para a tuberculose infecção. Esse levantamento ocorre em seis centros nos estados do Amazonas, Bahia, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, com 47% dos dados coletados até o momento.
O estudo compara três combinações de exames para identificar a necessidade de tratamento para tuberculose infecção ou tuberculose ativa:
- Estratégia padrão recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Ministério da Saúde, incluindo rastreamento de sintomas, prova tuberculínica e radiografia de tórax;
- Estratégia com rastreamento de sintomas, prova tuberculínica e teste rápido molecular;
- Estratégia com rastreamento de sintomas e radiografia de tórax.
Caso o tratamento para tuberculose infecção seja indicado e o participante concorde, ele será acompanhado pela equipe do estudo para monitoramento da adesão e possíveis efeitos adversos. “Com essas comparações, poderemos avaliar se as investigações mais simplificadas resultam em um aumento na taxa de indivíduos que iniciam o tratamento da tuberculose infecção”, afirma a líder operacional do TBPed, Márcia Polese.
O Proadi-SUS
Criado em 2009, o Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS) tem o objetivo de apoiar e aprimorar o SUS por meio de projetos de capacitação de recursos humanos, pesquisa, avaliação e incorporação de tecnologias, gestão e assistência especializada demandados pelo Ministério da Saúde. O programa reúne seis hospitais sem fins lucrativos que são referência em qualidade médico-assistencial e gestão: Hospital Alemão Oswaldo Cruz, BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, HCor, Hospital Israelita Albert Einstein, Hospital Moinhos de Vento e Hospital Sírio-Libanês. Os recursos do Proadi-SUS advêm da imunidade fiscal dos hospitais participantes.