Cultura: na vista da minha janela

Por Gabrielle Pacheco

Na clausura da pandemia, revisamos a nossa própria vida. Percebemos o que é dispensável e o que é necessário. Aprendemos que é mais necessário justo o que a maioria julgava como dispensável. Os dias sem música seriam infelizes demais: shows pela internet aliviaram a solidão e o silêncio. O livro de cabeceira revelou-se a melhor companhia. O consumo pelo audiovisual explodiu – somente o Netflix faturou 16 milhões de novo usuários. A cultura no meio da incerteza e do medo se tornou um recurso de saúde mental na opressão do novo mundo.

Aquilo que – por muitos e por muito tempo – era uma dinâmica purpurinada de segunda ordem na escala de prioridades, tornou-se condição de existência para realidade moderna. O que pôde ser explorado sem aglomeração humana elevou sua importância; e o que teve de ser freado pela pandemia já assusta pelos reflexos. A paralisação das atividades culturais causará um prejuízo de 11,1 bilhões em três meses no Brasil. O estudo da Universidade Federal de Minas Gerais calcula que para cada R$ 1,00 perdido na cultura, perde-se R$ 1,60 na economia em forma espiral.

E é a partir desse entendimento que precisamos doutrinar o comportamento do amanhã. Ou seja, vencerá a crise quem enxergar a cultura no pós-pandemia como ativo de transformação. E será devorado por ela quem a ver preconceituosamente como perfumaria. É matemático: a promoção de um evento abre caminho para várias áreas monetizarem também, como os segmentos hoteleiro, de segurança, de estrutura e montagem, de alimentação, da estética, do varejo, da comunicação, dos transportes. É um ciclo virtuoso, retroalimentado a partir de visão empreendedora.

Sim, a cultura será protagonista no processo de retomada do novo Brasil. Antes da pandemia já era claro a presença do dinheiro e da renda em cidades turísticas e a derrocada nos municípios que ainda não tinham essa percepção emancipada sobre a economia criativa. Já era assim no passado e será ainda mais assim amanhã.

Não há mais tempo para cabeças fechadas. Temos vivido décadas em dias, evoluído em sistemas e práticas numa velocidade que espanta. E é com essa pressa que a mutação da sociedade também acontecerá. Que seja com coragem, fé na humanidade, propósito e também cultura. Ela é indissociável da economia, da evolução, da própria vida.

Foto: Divulgação | Texto: Daiane Marin
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