Além do conteúdo: professores do IENH expõem papel amplo dos educadores na atualidade

Por Jonathan da Silva

A estrutura em que um professor transmite ensinamentos em uma sala de aula repleta de classes existe desde a Idade Média. Entretanto, o papel do docente tem passado por profundas transformações. Com as mudanças da sociedade e os avanços da tecnologia, a função do educador passou a ser mais complexa e ampla. Os professores deixaram de ser uma figura focada estritamente em transmitir conteúdo de forma rígida e passaram a também ter foco na formação socioemocional dos estudantes.

No passado, era comum enxergar a educação como ferramenta de disciplina, com o educador sendo uma espécie de figura sagrada, uma autoridade que moldava o comportamento dos alunos. “Hoje em dia nós temos um entendimento de que não é a forma adequada, a sociedade evoluiu em relação a isso”, aponta a professora de Língua Inglesa, Science e Global Perspectives da Instituição Evangélica de Novo Hamburgo (IENH), Karin Paola Meyrer. Estudos apontam que abordagens que desenvolvem o pensamento crítico e a consciência social são mais eficazes para engajar estudantes.

Contudo, encontrar o equilíbrio entre o rigor e a liberdade tem sido um desafio. “Nós queremos poder ser figuras amigáveis, acolhedoras, que vão ter um diálogo e uma relação diferente com os alunos, mas ao mesmo tempo nós temos que ter uma postura firme em termos de comportamentos desafiadores, atitudes que a gente entende que não são adequadas para o espaço escolar”, exemplifica Karin. Para o também educador da IENH, Gustavo Cerveira, “equalizar essa questão do conhecimento com essas questões socioemocionais é um dos maiores desafios que a gente tem na contemporaneidade”.

Duas faces da tecnologia

A tecnologia, ainda que com todas suas vantagens como facilitadora, tem sido propulsionadora do cenário desafiador. Gustavo avalia que o tempo passado pelas crianças em frente às telas tem atrapalhado o desenvolvimento motor, intelectual e social, já que diminui o movimento e a convivência com o diferente. Tem cabido ao professor proporcionar estes momentos ao aluno. “A escola teve que assumir esse papel também porque nós às vezes somos o único norte que vai trazer para algumas crianças e adolescentes”, enfatiza o educador.

Além disso, com a competição entre a lousa e a tela, o método expositivo tem sido menos interessante para os jovens alunos. “Eu não preciso mais procurar em uma enciclopédia qual é a data que aconteceram os grandes acontecimentos do mundo e os alunos não precisam decorar porque eles sempre vão ter acesso a isso, eles vão abrir o celular e vai estar lá”, cita Karin. Diante disso, o papel do docente tem ido além do conteúdo. “A gente sempre comenta que as nossas salas de aula são mini-sociedades, onde a gente tem que mostrar para os nossos alunos como eles vão se comportar no mundo lá fora depois”, destaca a professora.

O desafio da formação de novos professores

Diante do atual cenário, Karin revela que até mesmo dentro das salas de aula os estudantes perguntam o porquê de ela ter escolhido uma profissão exigente. “Eles genuinamente questionam, porque também observam o quão desafiador é esse contexto”, pontua a educadora.

Gustavo, que atua também na rede pública, alerta para a redução dos quadros de professores e destinos diferentes da sala de aula para os novos formados. “As pesquisas apontam um déficit de 250 mil professores em 2040. Docentes em física já estão em extinção, assim como em química e biologia, esses profissionais optam por trabalhar em grandes laboratórios ao invés das salas de aula”, exemplifica o professor. Ainda assim, Gustavo enxerga uma luz no fim do túnel. “Eu penso que quando ocorrer esse apagão, os professores vão ser vistos de outra maneira, o estímulo a essa profissão vai ser diferente”, conclui o docente.

Foto: Marina Klein Telles/Editora da Revista Expansão

Errata: em nossa publicação impressa, citamos como fonte da matéria a educadora da IENH, Karen Kaufmann. No entanto, quem realmente participou da reportagem foi a professora de Língua Inglesa, Science e Global Perspectives, Karin Paola Meyrer. Por aqui, realizamos a correção e pedimos desculpas para a docente e a instituição pelo equívoco.

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