A partir da próxima safra, um grupo-piloto de 11 pequenos vinicultores da Serra Gaúcha sairá da ilegalidade e poderá vender e divulgar seus produtos. A conquista é fruto de um trabalho realizado desde 2010 por oito instituições, com a articulação da Embrapa Uva e Vinho (RS), Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) e Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Rio Grande do Sul (Emater/RS-Ascar). Além de viabilizar uma lei feita sob medida para produtores da região, a Lei do Vinho Colonial, o grupo estruturou um protocolo de adequação que foi decisivo para legalizar a produção. Boas práticas, tais como uso de piso impermeável, paredes laváveis, controle de pragas (portas que impeçam a entrada de roedores e insetos, por exemplo), rastreabilidade e procedimentos para higienização, foram detalhadas na Instrução Normativa 05/2000 com a finalidade de auxiliar vinicultores a adaptar sua produção. Todo o conteúdo foi elaborado e proposto por cientistas e técnicos da área.
Conhecimento tradicional preservado
Os pequenos produtores são, na maioria, descendentes de imigrantes italianos que trouxeram na bagagem a fórmula para produzir o próprio vinho, considerado um item básico na sua alimentação. Com o aumento do enoturismo, a procura dos turistas para conhecer, degustar e levar para casa um pouco do vinho denominado colonial ou artesanal podia deixar o pequeno produtor à margem da lei, pois a necessidade de abertura de empresa para formalizar a atividade vinícola representava uma barreira.
Primeiras vinícolas legalizadas
Auri Flâmia, da Linha de São Valentim, no interior de Bento Gonçalves, foi um dos primeiros produtores participantes do projeto que conseguiu a legalização da sua vinícola, a Piccola Cantina. Neto de imigrantes italianos, em conjunto com a esposa Diva, cultiva 16 hectares de uvas comuns, como Niágara e ‘BRS Lorena’, e elabora vinhos para consumo próprio e da família e também vende parte da fruta para consumo. Já tinham praticamente toda a estrutura pronta, mas, mesmo assim, precisaram investir cerca de R$ 50 mil para adequar a estrutura conforme determina a norma. “Não me preocupo quando vou ter o dinheiro de volta, mas gosto de produzir vinho e agora que vai ser legalizado fica mais tranquilo. Dá orgulho fazer um bom produto que o pessoal gosta”, comenta Flâmia.
Com a participação da filha mais velha, que é a responsável técnica do estabelecimento, planejam já na próxima safra fazer os 20 mil litros de vinhos autorizados e comercializar na vinícola ou em feiras de produtores. “Vamos vender em garrafões de cinco litros ou em embalagens pet (plástico) de dois litros, que todos preferem por ser mais práticas e não precisar devolver”, comenta. Sonham que no futuro a propriedade passe a integrar uma rota turística do município, pois os 3,5 km de estrada de chão que separam a BR 470 da sua propriedade proporcionam lindas paisagens, como a vista do Vale da Ferradura.