Como manter ou revitalizar os vínculos de aprendizagem diante do desafiante momento em que vivemos? Este foi o tema do III Seminário Ampliado promovido pelo Instituto Crescer Legal nesta terça-feira, 10 de novembro. Realizado de forma virtual, o evento contou com a participação de mais de 60 profissionais das áreas de educação e assistência social nos municípios que atuam ou se relacionaram com o Instituto.
O diretor-presidente da entidade, Iro Schünke, abriu o evento falando sobre o impacto da pandemia nas atividades do Instituto. “Foi preciso muita criatividade para adaptar as atividades ao momento. Felizmente, as ações foram realizadas e temos a satisfação de chegar ao final do ano com os dois programas realizados. Nossos parceiros são extremamente importantes e esperamos contar com eles no próximo ano, quando esperamos uma volta à normalidade. Nosso agradecimento a todos aqueles que fazem o Instituto crescer cada vez mais”, frisou.
Ana Paula Motta Costa, advogada, socióloga e consultora do Instituto, falou sobre o tema do encontro. “Houve um tempo em que se acreditava que a ciência era puramente racional e passava ao largo da emoção. Mas hoje já sabemos que ninguém aprende só com razão. A aprendizagem só acontece se as pessoas se sentirem vinculadas e se entregarem ao projeto. Por isso, para o Instituto o vínculo é tão importante. E como vamos trabalhar vínculos à distância no contexto da pandemia? A resignificação do vínculo é tema central do nosso encontro”, comentou a socióloga, introduzindo a participação da psicóloga Francine Schutz Mentiacca.
Com experiência na área de desenvolvimento humano e organizacional, educação, assistência social e promoção à saúde, Francine conceituou o vínculo significativo saudável. “A construção de um vínculo significativo saudável é essencial não só para questões de aprendizagem, mas também para a saúde mental. Interesse, afeto, respeito, empatia, envolvimento, confiança e comunicação [verbal e não-verbal] perpassam a construção do vínculo. As emoções estão muito conectadas com a memória, sejam elas positivas ou negativas. Por esse motivo favorecem também o processo de aprendizagem. Desde os primórdios, o ser humano usa o vínculo como fator de sobrevivência. De lá para cá, o vínculo tem se aprimorado, mas ainda é por meio dele que, em comunidade, conseguimos nos comunicar, alinhar estratégias, aprender. Considerando que a maior parte dos aprendizados são construídos na relação com o outro, o vínculo é elemento essencial”, exemplificou.
De acordo com ela, no âmbito do Instituto, o primeiro vínculo dos aprendizes será inevitavelmente outros aprendizes. “Mas há outros vínculos a serem estimulados: com a família, com a instituição, com a comunidade e o educador. Incentivar os diferentes tipos de vínculo, pode ser desafiador, mas é importante para o pleno desenvolvimento do aprendiz”, comentou. Em relação ao momento vivido, a psicóloga refletiu que a pandemia nos trouxe desafios e foi preciso reajustar expectativas e trabalhar questões como resiliência, adaptação, flexibilidade. “Mas a construção do vínculo é possível, mesmo sem usarmos os cinco sentidos”, concluiu.
Ao longo do evento, parceiros expuseram suas experiências. Ana Paula Freitas Krug, diretora da Escola General Osório, de Herveiras, onde o Instituto sedia a segunda turma de aprendizes, relatou como as famílias e a escola, em conjunto, contornaram questões de logística enfrentadas com a pandemia. “Quando a pandemia começou, nós não sabíamos exatamente como proceder. Muitas famílias não possuem acesso à internet. Buscamos então outras referências familiares, como tios, para fazer essa comunicação inicial. Foram poucos os casos de famílias que não atenderam nosso chamado, mas a escola foi atrás e conseguiu reverter a entrega de materiais para 100%. O elo escola-família é muito grande e se intensificou diante das dificuldades”, relatou Ana ressaltando como ela também valoriza a importância do vínculo familiar.
Coube aos educadores Adriano Emmel e Débora Berghahnn trazer a experiência vivida pelo Instituto durante a pandemia. “Tivemos duas a três semanas de vivência presencial e foram fundamentais para que os educadores tivessem um primeiro contato com os aprendizes e suas diferentes realidades para dar então continuidade às atividades remotas. Planos de estudo foram entregues de forma impressa, ofertando a mesma oportunidade para todos. E a entrega e recolhimento das atividades, seguindo os protocolos de saúde necessários, acabou se tornando o momento presencial das turmas, com uma troca mais afetiva, olho no olho”, falou Adriano.
Segundo Débora, as atividades permitiram uma interação maior com a família e entes mais próximos das comunidades. Também foram criados momentos virtuais, turma a turma, de acordo com a possibilidade. “Criou-se grupo de whataspp, onde todos estão presentes, se não diretamente com o jovem, com algum ente familiar, considerando que alguns locais são limitados quando ao acesso da internet e até mesmo rede de telefone. Também se preferiu o uso de imagens e de áudios para facilitar para aqueles que não dispõe de wifi. As redes sociais também foram utilizadas para estreitar o vínculo com os jovens”, comentou.
Nádia Solf, gerente do Instituto, encerrou a programação falando sobre a alegria de reunir os parceiros. “Percebemos que estamos vinculados e nos encontramos nas dores e nas alegrias. Estamos muito felizes de poder reunir as pessoas que fazem o Instituto crescer cada vez mais. Acreditamos nos nossos jovens e sabemos que eles correspondem, querem continuar fazendo parte. Perseverar na esperança é a mensagem que levamos de 2020 para o futuro”, falou.