O prejuízo à economia brasileira em função das enchentes no Rio Grande do Sul pode atingir cerca de R$ 97 bilhões de acordo com estudo realizado pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Conforme o levantamento, as perdas podem chegar a R$ 58 bilhões no RS e a R$ 38,9 bilhões em outros estados. O impacto potencial no PIB do RS pode ser de 9,86%, com efeito de até 1% no PIB brasileiro. Além disso, a tragédia pode resultar na perda de 195 mil empregos em solo gaúcho e 110 mil em outras unidades federativas, totalizando 305 mil empregos, 7,19% do estoque de empregos formais no RS e 0,69% em nível nacional.
Para mitigar os efeitos do desastre, o Governo Federal anunciou um pacote de apoio ao RS de R$ 46,1 bilhões, incluindo recursos, antecipações de benefícios e crédito. O estado estima necessitar R$ 19 bilhões para reconstruir sua infraestrutura. No entanto, o consenso é de que esses esforços precisam ser complementados com outras ações. A CNC apresenta sugestões em três eixos temáticos:
1. Preservação dos Empregos:
- Redução proporcional da jornada de trabalho e salários;
- Suspensão temporária de contratos com compensação financeira;
- Flexibilização do trabalho remoto;
- Antecipação de férias;
- Utilização de bancos de horas.
2. Acesso a Crédito:
- Programa de crédito para pagamento de folha salarial;
- Standstill para linhas de crédito públicas;
- Renegociação de dívidas tributárias;
- Redução a zero do spread bancário do BNDES.
3. Alívio Tributário:
- Diferimento de 6 meses para pagamento do Simples Nacional e impostos federais;
- Criação do Programa Perse-RS, com redução de alíquotas para o setor de turismo até 2027.
De acordo com o presidente do Sistema CNC-Sesc-Senac, José Roberto Tadros, tanto as estimativas quanto as sugestões da confederação têm o objetivo de orientar a retomada econômica do RS e minimizar os impactos negativos da tragédia climática. “A rápida implementação das medidas de auxílio é muito importante para evitar efeitos prolongados e danos adicionais à economia gaúcha e à brasileira como um todo”, reforça Tadros.
O presidente do Sistema Fecomércio-Sesc-Senac-RS e 2º vice-presidente da CNC, Luiz Carlos Bohn, destaca a necessidade de que as medidas a serem traçadas tenham um viés de resiliência. “O Rio Grande do Sul passou por uma tragédia histórica, com perdas que não se restringem apenas ao momento atual. Muita infraestrutura e muito capital privado de famílias e empresas foram destruídos. Para amenizar as perdas futuras, é necessário auxiliar todos que foram atingidos direta e indiretamente no Estado e, fundamentalmente, garantir que isso jamais se repita nas proporções vistas recentemente”, ressalta Bohn.
Impactos no setor produtivo
O economista-chefe da CNC, Felipe Tavares, afirma que “a reconstrução do Rio Grande do Sul exigirá esforços contínuos e investimentos substanciais para restaurar a economia e os empregos perdidos”. A tragédia tende a afetar a atividade econômica, inflação e dinâmica fiscal de todo o país. O comércio, os serviços e o turismo sofrerão duramente caso as medidas mitigatórias não sejam implantadas de maneira efetiva. O estudo da CNC estima uma perda diária de R$ 5 bilhões no comércio, equivalente a 31,5% do valor previsto para maio. A infraestrutura e o abastecimento foram afetados, resultando em uma queda de 28% no fluxo de veículos de carga nas estradas. O RS representa 7% do volume de vendas no varejo brasileiro. As perdas no comércio podem chegar a R$ 10 bilhões, 5% do faturamento de 2023.
No turismo, a perspectiva é que o setor tenha perdas superiores a R$ 49 milhões por dia, acumulando até R$ 2 bilhões de perdas até junho de 2024 e podendo chegar a R$ 6 bilhões em 2024. O RS foi responsável por 6% do faturamento do turismo no Brasil, em 2023. A perda de faturamento pode representar até 21,4% do total faturado em 2023 no estado. A infraestrutura de transporte comprometida é um grande risco, com a interrupção do fluxo de turistas, por conta do fechamento do aeroporto de Porto Alegre e rodovias afetadas.
Além disso, o RS é um importante produtor agrícola, responsável por cerca de 6% do PIB estadual, com a produção de arroz representando 1%. A indústria do estado, com impacto relevante na transformação de máquinas, produtos químicos e veículos, também será afetada.
Confira na íntegra do estudo elaborado pela CNC.