Levantamento inédito que comprovou a associação do surto de Zika vírus com os bebês nascidos com microcefalia na região nordeste do Brasil é o vencedor da 17ª edição do Prêmio Péter Murányi, conforme decisão do júri realizado quarta-feira (8). O trabalho, coordenado pela doutora Celina Turchi e indicado pela Fundação Oswaldo Cruz, apontou, ainda, a relação do vírus com o aumento da mortalidade de fetos.
O estudo epidemiológico, o primeiro que estabeleceu a associação entre microcefalia e infecção pelo vírus da Zika, acompanhou, de janeiro a novembro de 2016, a gestação de mulheres atendidas em oito maternidades públicas do Recife. Durante o período, 32 recém-nascidos foram diagnosticados com microcefalia. Testes laboratoriais apontaram a presença de infecção por Zika vírus em 13 deles.
De acordo com Vera Murányi Kiss, presidente da Fundação Péter Murányi, entidade organizadora da premiação, estudos como esse mostram a importância do trabalho dos pesquisadores brasileiros para preservar o futuro das próximas gerações.
“Essa votação foi uma das mais emocionantes que já participei, devido ao nível dos finalistas. Todos são muito impactantes. Era impossível não pensar no tamanho do benefício que os trabalhos ofereciam à população, conforme íamos analisando os três estudos”, relata. Vera sinalizou também que essa perplexidade para escolher a colocação de cada concorrente é motivo de orgulho, afinal, significa que cumpriram, com louvor, os critérios de avaliação.
Os resultados apontados pelo grupo de estudos chefiado pela doutora Celina permitiram que fossem criadas medidas de combate ao mosquito transmissor do Zika vírus por parte do poder público, como a distribuição de repelentes para grávidas moradoras de áreas de risco para a doença e o acompanhamento das crianças portadoras de microcefalia. Bem como, auxiliou na análise clínica das infecções.
“É uma doença que gerou intensa comoção social e isso evidencia a gravidade desses eventos ligados à saúde reprodutiva da mulher, o desconhecimento sobre a causa e transmissão da infecção e dos possíveis fatores de risco expostos. Podemos dizer que esse estudo, realizado por pesquisadores brasileiros, moveu a fronteira do conhecimento científico e, hoje, é referência nos guias de manejo da síndrome do Ministério da Saúde e também é utilizado como fonte de orientação para os EUA”, relata Celina.
Reconhecimento internacional
O trabalho resultou na inclusão de sua coordenadora, a médica epidemiologista Celina Turchi, entre as 100 pessoas mais influentes do mundo eleitas em 2017 pela revista norte-americana Time. A cientista brasileira foi a responsável por formar uma rede internacional, com cerca de 30 profissionais de diversas especialidades e instituições, reunidos no Microcephaly Epidemic Research Group (Grupo de Pesquisa da Epidemia de Microcefalia), que conseguiu, em apenas três meses, identificar como o vírus Zika e a microcefalia estavam associados – os estudos começaram em janeiro de 2016, e, em abril, já havia fortes indícios dessa relação.