O evento Casa Experience 2025 foi realizado pela Casa de Saúde Menino Jesus de Praga nesta terça-feira (2), em Porto Alegre, com a participação de cerca de 500 pessoas, entre profissionais da saúde, representantes do terceiro setor, autoridades estaduais e municipais, startups e membros da comunidade. A programação contou com 12 painéis sobre cuidado humanizado, organizada com o objetivo de ser uma jornada imersiva para discutir práticas, desafios e impactos dessa abordagem.
A data coincidiu com o Dia de Doar, movimento global voltado ao incentivo à solidariedade, o que, para a organização, reforçou o propósito de destacar ações de cuidado contínuo. A secretária adjunta de Saúde do Rio Grande do Sul, Ana Costa, afirmou que o acolhimento adequado depende de uma rede articulada. “Fazer o melhor pela pessoa não significa, necessariamente, que ela esteja atrelada ao Estado. Hospital não é lugar para morar. Quando possibilitamos que o ecossistema funcione de forma saudável, abrimos caminho para o cuidado real”, comentou Ana.
O secretário estadual do Desenvolvimento Social do Rio Grande do Sul, Beto Fantinel, mencionou, por sua vez, o envelhecimento populacional como um desafio crescente e apontou o trabalho da casa como referência. “Que bom que temos essa Casa. O leito hospitalar já não é o lugar mais seguro, visto o risco iminente de infecções hospitalares. Hoje, 20 acolhidos do estado recebem aqui um cuidado qualificado, que se tornou referência nacional”, afirmou Fantinel.
O presidente do conselho de administração voluntário da Casa de Saúde Menino Jesus de Praga, Pablo Berger, apresentou dados sobre o impacto da instituição. Segundo ele, os 60 acolhidos atualmente atendidos permitem liberar cerca de 2,6 mil vagas de leitos e UTIs do SUS ao ano. Berger acrescentou que práticas preventivas reduziram em 75% a necessidade de hospitalização dos moradores entre 2024 e 2025.
Histórias que ilustram o cuidado
O painel “Vozes reais: o cuidado que transforma vidas” apresentou relatos de pessoas atendidas ou ligadas à instituição. O psicólogo Cláudio Luciano Dusik relatou sua trajetória desde a infância. “Minha mãe ouviu dos médicos que eu seria como um boneco de pano. Mas ela me ensinou que eu poderia ser um menino de verdade. A criança sempre acredita no que seus pais dizem”, contou Dusik.
Caroline Fontella da Silva, mãe do acolhido Pedro, disse que o atendimento ampliou o tempo ao lado do filho. “Aqui dentro ganhei anos a mais com meu filho. Ele é cuidado e amado”, destacou Caroline. Já Karen Luciana Santos da Silva, avó do acolhido Oliver, relatou o retorno do neto ao convívio familiar. “Ele está quase completando um ano em casa. Tudo o que alcançou começou aqui, com cuidado e humanidade”, comentou Karen.
Em debate sobre inovação, tecnologia e humanização, o CEO do Hospital Moinhos de Vento, Mohamed Parrini, se manifestou. “A gente não pode mudar o mundo. Podemos mudar a nós mesmos. O cuidado humanizado nasce das pequenas mudanças diárias, das pequenas entregas”, pontuou o executivo.
Tecnologia, ambiente e práticas de cuidado
O CEO do Complexo de Saúde do Pequeno Cotolengo do Paraná, Diogo Azevedo, abordou modelos próprios de cuidado interdisciplinar, baseados nas características individuais de cada residente. Já representantes de iniciativas tecnológicas discutiram aplicações voltadas ao apoio às equipes sem substituir a interação humana. O representante da startup NoHarm.ai, Henrique Dias, afirmou que a inteligência artificial deve “devolver humanidade ao cuidado”.
O arquiteto Gustavo Seferin apresentou reflexões sobre ambientes voltados ao bem-estar no projeto “Casa do Futuro”. A arquiteta Bia Rafaelli, que atua com design biofílico, discutiu o uso de elementos naturais para redução do estresse e promoção de saúde integral.
A médica intensivista Lívia Biason encerrou os debates com uma reflexão sobre a centralidade das relações humanas na assistência. “Não está faltando tecnologia. Está faltando gente. Humanizar é reconhecer a humanidade do outro. Hoje, cura e cuidado viraram coisas separadas, e precisamos uni-las novamente”, comentou Lívia.
Visitas guiadas
Durante todo o evento, o público pôde participar de visitas guiadas a espaços da instituição, como a Casa do Futuro, núcleos de atendimento, consultórios, piscina aquecida para hidroterapia, salas de múltiplas terapias e o carro híbrido utilizado no transporte de cadeirantes e macas.
O que é a Casa de Saúde Menino Jesus de Praga
Fundada há 41 anos, a Casa de Saúde Menino Jesus de Praga é uma instituição filantrópica dedicada ao acolhimento de longa permanência para pessoas com lesões neurológicas e motoras de média e alta complexidade. A instituição ocupa área de 4,7 mil m², opera 24 horas por dia e conta com cerca de 170 profissionais. Entre os serviços oferecidos estão enfermagem, fisioterapia, fonoaudiologia, hidroterapia, odontologia e programas de habilitação e reabilitação. Atualmente, 60 pessoas são acolhidas no local.

