Tão essencial quanto respirar, é o alimento que passa pelas nossas mesas todos os dias. Os de origem animal, em especial, muito consumido por gaúchos, requerem um cuidado sanitário especial, que inicia desde o seu abate até o momento em que o produto desfila pelos refrigeradores de supermercados e açougues.
Mas para que o produto esteja livre de possíveis contaminações, existem profissionais que iniciam seu trabalho de fiscalização antes mesmo do pôr do sol, em frigoríficos e abatedouros, que são os médicos veterinários da Secretaria Municipal de Agricultura (Seagri). Em Santa Cruz do Sul são cerca de 20 estabelecimentos do gênero que são monitorados periodicamente por sete profissionais da área veterinária.
É o caso de Lúcia Weiss, que desperta todos os dias às 4h da manhã para vistoriar desde o primeiro animal que aporta no Frigorífico Schender, em Rio Pardinho, por exemplo, que comercializa carne suína. “Como fiscais, somos responsáveis por todo o andamento do abate. Antes de iniciar temos que fazer o “ante-mortem”, onde analisamos a documentação que acompanha os animais, verificamos o número de animais que aportou no frigorífico, sua procedência e inclusive a GTA (documento obrigatório para o transporte de animais””, explica a médica veterinária.
Mas o mais importante, segundo ela, é o trabalho que vem na sequência. “Se tem algum animal com problemas de saúde, de lesão, por exemplo, que tenha que ser abatido antes, ou outro que veio a óbito durante o transporte, e que precise ser feito necropsia, tudo isso é verificado”, exemplifica.
Nada passa batido na vistoria de Lúcia. “Requer muita responsabilidade, porque a gente lida com um produto que as pessoas vão consumir, e isso é muito sério”, conta. Atualmente, no Frigorífico Schender são abatidos cerca de 350 animais por dia, cerca de 6 mil ao mês.
De acordo com Sérgio Schwendler, o Serviço de Inspeção Municipal (SIM) foi fundamental para habilitar a empresa no Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal (SISBI), o que possibilitou aumento na comercialização dos produtos. “O serviço de inspeção municipal nos habilitou para que conseguíssemos o SISBI, e assim podemos comercializar os produtos em todo território nacional. O serviço de inspeção dá condições de industrializar e vender a mercadoria, porque o produto precisa ser inspecionado. Um dos valores da Schender é a qualidade dos produtos, com base nisto, o serviço de inspeção realizado pelo SIM só tem a acrescentar no nosso dia a dia”, comenta Sérgio.
Serviço de Inspeção
Ainda é madrugada quando o médico veterinário Ricardo Almeida da Costa sai de Santa Cruz do Sul para o interior, tendo como destino o Frigorífico Gassen, em Linha Nova. Lá, Ricardo veste-se inicialmente com uniforme em tom azul, para verificar o gado no curral. É naquele setor que ele faz o trabalho, todas as manhãs, de examinar as informações de transporte e saúde. “E também se verifica se há possíveis problemas de saúde, lesões ou condições que possam afetar a segurança alimentar. Animais doentes ou com problemas são separados para avaliação mais detalhada”, explica.
Concluída a parte inicial, muda-se o uniforme para o branco, para acompanhar o processo de abate. Segundo ele, é neste processo que ele monitora ativamente as condições do local, garantindo que sejam seguidas as boas práticas. “Após o abate, a gente faz uma inspeção minuciosa das carcaças, órgãos e outros tecidos. É verificado se há sinais de doenças ou anomalias que possam impactar a qualidade da carne e a segurança alimentar”, relata.
De acordo com o médico veterinário, ele acompanha cada etapa do processamento da carne, incluindo o corte, o empacotamento e a rotulagem, para garantir que todas as etapas estejam em conformidade com os padrões de segurança alimentar. “Após a conclusão das inspeções e confirmação de que a carne está dentro dos padrões exigidos, coloca-se as etiquetas apropriadas para a distribuição.
Registrada no SIM de Santa Cruz do Sul desde 1998, o Frigorífico Gassen, abate cerca de 350 bovinos por dia, média de 5 mil ao mês. Também, foi a primeira empresa do município a ser habilitada junto ao Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal (SISBI), no ano de 2010, o que possibilitou aumento na comercialização dos produtos.
Laticínios Sehn
Primeiro vendendo de porta em porta, manteiga, nata, requeijão, leite, levados em uma carroça, iniciada por seu Armindo, hoje com 92 anos, e dona Ilse, de 88, até se tornar uma agroindústria que leva o sobrenome da família, Laticínios Sehn, localizada em Linha João Alves.
Desde 2010, com a agroindústria Sehn regularizada, é o microempresário João e sua esposa, Marcia, que tocam a produção, desde a ordenha de mais de 30 vacas de leite, até a confecção dos produtos para a venda, contabilizando cerca de 300 litros/dia embalados. Quem supervisiona todo o trabalho da família no momento é o médico veterinário Juliano Gomes, da Secretaria Municipal de Agricultura, que realiza a inspeção periódica. “O principal cuidado que se observa é a questão da higiene no ambiente. Mas também observamos se a temperatura está adequada, a rotulagem, a validade dos produtos, e coletamos materiais para fazer análises regulares em laboratório, atestando que o produto está apto para ser consumido”, explicou Juliano.
A estrutura do SIM
A Secretaria de Agricultura dispõe de 7 médicos veterinários, 5 agentes de Inspeção de Produtos de Origem Animal e 1 Agente Administrativo. No total, são cerca de 20 estabelecimentos industriais, entre agroindústrias, frigoríficos e fábrica de embutidos, atendidos por esses profissionais. De acordo com o titular da pasta, Decio Hochscheidt, o trabalho desses profissionais é fundamental para o sucesso dos estabelecimentos que trabalham com produtos de origem animal. “Temos uma equipe qualificada e que conhece bem os processos de fiscalização”, disse o secretário.
A prefeita Helena Hermany salienta a importância da diversificação no meio industrial. “Santa Cruz do Sul se tornou um município muito diverso, porque temos indústrias de vários segmentos. Estamos sempre apoiando o pequeno, o médio e o grande empresário, porque todos geram emprego, renda e impostos para nosso município. O trabalho dos médicos veterinários que fazem a inspeção é fundamental, para garantir que tudo o que produzimos aqui tenha credibilidade, e quem sai ganhando são as empresas, oferecendo um produto com certificado de qualidade, e o município também ganha, com a geração de impostos na comercialização dos produtos”, declarou.
O Serviço de Inspeção Municipal (SIM) foi criado em 1997 e inicialmente era realizado na Secretaria municipal de Saúde, quando tinha apenas um veterinário. No ano de 2004 o Serviço passou para Secretaria Municipal de Agricultura, quando passou a se estruturar para atender de forma mais eficaz as demandas de indústrias de produtos de origem animal. O coordenador do SIM é o médico veterinário Paulo César Rutkowski.