O Hospital Sapiranga trabalha de forma multidisciplinar e investe na capacitação não só de seus colaboradores, mas no esclarecimento junto à população. Em média, uma doação salva quatro vidas. Apesar da ampliação da discussão do tema nos últimos anos, trata-se ainda de um assunto polêmico e de difícil entendimento, resultando em um alto índice de recusa familiar. Estudo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) identificou três motivos principais para essa alta taxa de recusa, que não ocorre só no Brasil: incompreensão da morte encefálica, falta de preparo da equipe para fazer a comunicação sobre a morte e religião.
A médica do Hospital Sapiranga, Rafaela Webster, explica que a capitação de órgãos é um procedimento cirúrgico similar a outras cirurgias como a retirada de vesícula biliar ou remoção de apêndice. Ao final do procedimento o corpo é reconstituído sem qualquer deformidade, podendo ser velado normalmente.
“Todos os cuidados de reconstituição do corpo são obrigatórios pela Lei n° 9.434/1997. Os órgãos são transplantados para os primeiros pacientes compatíveis que estão aguardando em lista única da central de transplantes da Secretaria de Saúde de cada Estado. Esse processo, além de justo, é controlado pelo Sistema Nacional de Transplantes e supervisionado pelo Ministério Público”, explica.
O Hospital Sapiranga conta com uma estrutura profissional para o encaminhamento dos casos. A CIHDOTT, que é uma Comissão Intra-hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes formada por uma equipe multiprofissional da área de saúde, que tem a finalidade de organizar, no âmbito da instituição, rotinas e protocolos efetivando a proposta de doação, melhorando a identificação e a manutenção de potenciais doadores que possibilitem o processo de doação de órgãos e tecidos para transplantes conforme protocolos estabelecidos pelo Sistema Nacional de Transplantes. A CHIDOTT do Hospital é composta por enfermeiros, médicos, psicólogos e assistente social.
Sensibilização com a família
Todas as famílias merecem serem acolhidas e receber suporte, tanto de informações quanto emocional em um momento de tanta dificuldade que é a perda de um ente querido. A enfermeira do Hospital Sapiranga, Camila Crippa, explica que família já é atendida desde o primeiro momento pela equipe e pela psicologia, podendo auxiliar no entendimento do quadro clínico, no risco eminente de óbito e a irreversibilidade.
“Apenas ao final da confirmação de morte encefálica e da viabilidade de doação, que é realizada a entrevista para aceite da família em relação a doação. A conversa sobre doação de fato é apenas no final do processo, assim a família tem tempo de compreender a situação e não cria tantas expectativas em relação a doação”, explica.
Os psicólogos do Hospital Sapiranga, Bruna Martin e Cristian Oliveira, reforçam que o acolhimento dos familiares não visa apenas a doação, mas todo o processo de hospitalização e perda de um ente querido. Atualmente no Brasil, são poucas as contraindicações absolutas que excluem os potenciais doadores, como exemplo: tumores malignos, com exceção dos carcinomas basocelulares da pele, carcinoma in situ do colo uterino e tumores primitivos do sistema nervoso central; sorologia positiva para HIV ou para HTLV I e II; sepse ativa e não controlada; tuberculose em atividade. No mais, quaisquer patologias prévias são avaliadas pelas equipes de transplantes.