Campo Bom iniciou, em outubro, o monitoramento do Parque de Saneamento Ecológico da Vila Rica, um projeto que integra saneamento básico, restauração ambiental e inovação tecnológica. Localizado na região sul da cidade, o espaço utiliza Soluções Baseadas na Natureza (SbN) — tecnologias inspiradas nos ecossistemas — para tratar o esgoto de cerca de 2,2 mil moradores e melhorar a drenagem urbana, reduzindo os impactos das cheias. A iniciativa surgiu da necessidade de adaptação climática, intensificada após as enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul em maio de 2024.
O parque ocupa uma área de dois hectares e recebe também as águas pluviais de uma bacia de cerca de 25 hectares. O local, que originalmente era um banhado natural aterrado, passa agora por recuperação ambiental, retomando suas funções ecológicas. O sistema é formado por 11 lagoas vegetadas que utilizam a tecnologia de banhados construídos (constructed wetlands). Nessas lagoas, plantas aquáticas nativas realizam a depuração da matéria orgânica, promovendo o tratamento natural do esgoto e o armazenamento temporário da água da chuva, o que ajuda na mitigação de cheias.
Parceria com a Universidade Feevale
Para acompanhar o desempenho do sistema, a Prefeitura de Campo Bom firmou um convênio com a Universidade Feevale. Em parceria com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, a instituição realiza o monitoramento da qualidade da água, dos níveis e das vazões das lagoas. O objetivo é medir os benefícios das estruturas e da vegetação no tratamento dos efluentes e na regulação hídrica do entorno.
Os primeiros resultados indicam alta eficiência: o efluente tratado apresentou reduções médias de 99,5% em coliformes fecais, 86,6% em coliformes totais, 98,2% em DBO₅, 94,8% em DQO, 71,1% em fósforo total, 76,6% em amônia (NH₃), 19% em NTK e 95% em sólidos suspensos totais (SST).
Segundo o prefeito Giovani Feltes (MDB), esse projeto representa uma nova forma de pensar o saneamento, em sintonia com a natureza. “Estamos transformando um antigo passivo ambiental em uma solução sustentável e educativa para toda a cidade”, afirmou o chefe do executivo de Campo Bom.
Referência científica e reconhecimento nacional
O Parque de Saneamento Ecológico da Vila Rica recebeu recentemente a visita dos pesquisadores professora Dra. Lúcia Ribeiro Rodrigues e Dr. Gustavo S. Colares, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH), acompanhados do professor Dr. Günther Gehlen, do Programa de Pós-Graduação em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale. Os pesquisadores integram o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Soluções Baseadas na Natureza (CNPq, Capes e Fapergs) e, durante a visita, conheceram as obras concluídas e propuseram ações para aprimorar o projeto, com foco em benefícios à população do entorno e à Bacia do Rio dos Sinos. “O Parque de Saneamento Ecológico da Vila Rica é um exemplo de como as Soluções Baseadas na Natureza podem ser aplicadas no contexto urbano, unindo ciência, gestão pública e benefícios diretos para a comunidade”, destacou Gehlen.
Compensação ambiental
A recuperação da área foi viabilizada por recursos de compensação ambiental e prevê a criação de um parque urbano voltado à educação ambiental e à divulgação de tecnologias sustentáveis. O projeto será apresentado no 7º Simpósio Nacional de Wetlands Construídos, no dia 28 de outubro, em Curitiba, posicionando Campo Bom entre os municípios pioneiros do Brasil na aplicação de soluções baseadas na natureza para a recuperação de áreas degradadas e a gestão ambiental urbana.


