Vista como vilã ambiental por parte dos consumidores anos atrás, especialmente no que diz respeito à produção de couros, a cadeia produtiva do setor está atualmente em outro patamar no quesito sustentabilidade, não somente com relação às questões ambientais, mas também nas sociais e econômicas. Porém, existe ainda um longo caminho a ser percorrido. Neste contexto, o dia de ontem (13) foi histórico.
Entidades ligadas à cadeia, lideradas pela Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) e pela Associação Brasileira de Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos (Assintecal), promoveram o evento “Sustentabilidade: é hora de avançar”, que reuniu um público de mais de 400 pessoas no Centro Cultural de Campo Bom/RS.
O encontro iniciou com a apresentação de Alexandre Birman, CEO da Arezzo&CO, uma das maiores empresas de calçados do Brasil. O grupo está em fase de adesão à certificação Origem Sustentável e foi um dos pioneiros na adoção da sustentabilidade em sua estratégia de negócios. Birman reconheceu os avanços já conquistados na área, porém lançou um desafio arrojado, para que a cadeia coureiro-calçadista se torne a primeira certificada como sustentável, de ponta a ponta, no mundo.
“É o nosso sonho e é por isso que a Arezzo luta há mais de 15 anos”, disse.
Com mais de 13 milhões de pares de calçados e 1,5 milhão de bolsas comercializados no ano passado, o grupo trabalha a cultura de sustentabilidade junto ao seu quadro de mais de 1,6 mil colaboradores. Além de envolver seu público interno, a empresa incentiva o engajamento de seu quadro de fornecedores, tendo lançado recentemente o Código de Conduta Socioambiental para esse público. O grupo tem como meta, até 2021, ter todos os fornecedores certificados pelos programas Origem Sustentável (cadeia de calçados e componentes) e CSCB (couros).
Convidada pela Arezzo&CO para trazer um olhar da sustentabilidade na moda, a jornalista especializada em Moda, Lilian Pacce, ressaltou a importância assumida pela sustentabilidade no setor, especialmente em resposta a uma demanda crescente do consumidor, principalmente da geração Z – pessoas nascidas em meados de 1990 até início de 2010. “Esse público está mais informado e mais preocupado com a sustentabilidade”, destacou.
Segundo Lilian, parte da cadeia já entendeu a importância do conceito, como as 32 marcas internacionais que assinaram o Fashion Pact, uma carta com objetivos comuns, como a eliminação de gases de efeito estufa até 2050, a restauração da biodiversidade, a proteção dos oceanos, entre outros. A carta foi apresentada na última reunião do G7, na França, e contou com o apoio de líderes políticos. Entre as signatárias, aparecem marcas como Adidas, Burberry, Chanel, Gap, H&M, Inditex e Kering.
“Ao invés da posse, as pessoas têm procurado mais o acesso, por meio de aluguel de roupas.”
“O fato é que o mercado está mudando, a forma de consumo não será mais a mesma. Ao invés da posse, as pessoas têm procurado mais o acesso, por meio de aluguel de roupas. Inclusive, o brechó tomou status de startup. As empresas precisam estar preparadas para isso”, disse, ressaltando que a sustentabilidade “não é uma onda, é um tsunami”. No Brasil, a jornalista citou como cases de sucesso a parceria com a marca francesa Veja, que deu origem à Vert, que produz calçados com látex da Amazônia e criou o primeiro tênis de corrida sustentável; e o da Osklen, que trabalha com couro de pirarucu e possui trabalho importante junto a comunidades ribeirinhas para capacitação e geração de renda.


