Muito pode ser dito sobre os inúmeros direitos, deveres e possibilidades que a vida nos traz. A garantia de liberdade individual, prevista na CF/88 nos remete a um estado democrático de direito, que visa nos garantir condições de igualdade. Todo esse arcabouço constitucional serve como uma bússola para que possamos conviver em uma sociedade harmônica. Evidente que o objetivo maior e mais nobre é a manutenção da vida.
Vivemos em um tempo de pandemia, em que uma doença chamada Covid-19 nos apresenta uma realidade nunca vista: a maior crise sanitária mundial da nossa época. Neste momento, embora transcorrido mais de um ano de uma trajetória de mortes e incertezas, seguimos pouco sabendo de todas as facetas e mutações que apresenta ou que ainda nos revelará, ficando claro que, apesar de todos os esforços da ciência, temos um caminho árduo até vencermos esta batalha.
A vacina, como historicamente tem sido em pandemias já vividas, é a nossa grande esperança. A limitação da produção, distribuição e comercialização, bem como a falta de unidade no nosso país em torno da solução, tem feito com que o processo seja bem mais lento do que gostaríamos que fosse.
As dificuldades de todos os segmentos da sociedade em entender e abraçar a ideia do isolamento social, do cumprimento dos protocolos e do uso de EPIs, bem como a politização inadequada do tema, faz com que estejamos vivendo uma guerra de acusações. Percebe-se que o mais importante não está sendo encontrar soluções coletivas, mas saber quem poderá ser o culpado pelas mortes que acontecem cada vez mais, em números alarmantes.
Como agravante desta crise sem precedentes, temos os aspectos econômicos, sociais e religiosos envolvidos. As medidas mais restritivas causam, sem sombra de dúvida, prejuízos enormes e irreparáveis a determinados e expressivos setores da economia, que por sua vez, de forma legítima, se manifestam contrários à sua implementação. Todas as partes têm boa dose de razão e merecem ser consideradas. Não há neste ponto, lados opostos. O que existe na verdade, é um choque de necessidades. É papel do poder público fazer uma avaliação coerente de tais necessidades.
Importante ressaltar que todos os entes federados dependem da arrecadação do setor econômico para a manutenção das atividades e serviços públicos, razão de ser de sua existência e previsão constitucional. Dessa forma, não há benefício algum ao Prefeito ou ao Governador, tampouco ao Presidente interessa qualquer paralisação de atividade, em qualquer área da economia.
Trata-se, na verdade, da viabilidade, em fase de esgotamento, das condições de atendimento aos milhares de contaminados pelo vírus. Como também de decidir se vamos envidar esforços, mesmo com tantas perdas e dificuldades dos setores econômicos afetados (precisaremos reparar assim que possível) para atender, nas emergências dos hospitais, com respiradores e UTIs que possam dar uma esperança de vida às centenas de pessoas que estão buscando desesperadamente este atendimento, ou não.
Acredito que devamos fazer este sacrifício neste momento, como seres humanos e como sociedade, sempre lembrando que, em uma pandemia, não há vencedores. Todos perdem e perdem muito!
Luciano Orsi,prefeito de Campo Bom e presidente da Amvars (Associação dos Municípios do Vale do Rio dos Sinos)