Um estudo conduzido na Universidade de Passo Fundo (UPF) aponta que o uso de cosméticos por crianças — como shampoos, cremes, maquiagens e perfumes — pode provocar desregulação hormonal e antecipar o início da puberdade. A pesquisa, realizada pela estudante de medicina Ana Júlia Schiavon Zanin, sob orientação da professora Andressa Van Riedel, chama atenção para os riscos da exposição precoce a substâncias químicas presentes em produtos de beleza, fenômeno impulsionado pela popularização das rotinas estéticas infantis nas redes sociais.
A pesquisa revela que a pele infantil, por ser mais fina e ter maior proporção entre superfície e massa corporal, absorve com mais facilidade substâncias químicas. Além disso, órgãos como fígado e rins ainda estão em desenvolvimento, o que reduz a capacidade de eliminar toxinas. O sistema endócrino — responsável por regular o crescimento, a puberdade e o desenvolvimento neurológico — também é mais vulnerável à ação de compostos que imitam ou bloqueiam hormônios naturais. Entre eles estão os ftalatos, o bisfenol A (BPA) e os parabenos, conhecidos como disruptores endócrinos.
A estudante Ana Júlia Schiavon Zanin explica que a exposição dessas substâncias pode afetar a maturação puberal, o funcionamento da tireoide e o metabolismo. “Os pais devem evitar que seus filhos utilizem produtos com parabenos, ftalatos e bisfenol A, e os órgãos reguladores precisam exigir rótulos claros indicando a presença desses químicos, para que a população possa fazer escolhas mais seguras”, alerta a pesquisadora.
Necessidade de orientação e regulação
Segundo Ana Júlia, o estudo também busca contribuir para a conscientização de profissionais da saúde sobre o tema. “Médicos e profissionais de saúde devem estar atentos a esses riscos e instruir as famílias sobre a escolha de produtos mais seguros, apesar das lacunas de conhecimento e dos desafios regulatórios. A pesquisa contínua é fundamental para identificar essas substâncias e seus mecanismos, bem como desenvolver estratégias de prevenção mais eficazes”, afirma a estudante.
A professora Andressa Van Riedel, da Faculdade de Medicina da UPF e orientadora do trabalho, destaca que o estudo está sendo aprofundado para publicação em revistas científicas. A pesquisa foi baseada em uma revisão bibliográfica realizada em bases de dados como PubMed, SciELO e UpToDate.
Compostos que afetam o equilíbrio hormonal
O bisfenol A (BPA) é encontrado em embalagens plásticas, antigas mamadeiras e revestimentos internos de latas. O aquecimento desses materiais pode liberar o BPA em alimentos, sendo a principal forma de exposição. Contudo, o contato com cosméticos também pode resultar em absorção pela pele e interferir na regulação hormonal.
Os ftalatos, presentes em fragrâncias e plásticos, estão relacionados a alterações na testosterona e em outros hormônios masculinos. Em meninos, podem causar atraso puberal ou redução da distância anogenital — marcador de interferência hormonal — e, em meninas, antecipar o desenvolvimento das mamas. Também afetam a função da tireoide e estão associados ao aumento do risco de obesidade, diabetes tipo 2 e hipertensão.
Já os parabenos, usados como conservantes, imitam a ação do estrogênio e interferem no metabolismo e no crescimento. No tecido adiposo, estimulam a formação de novas células de gordura e podem contribuir para resistência à insulina. Em meninas, a ação estrogênica pode causar telarca precoce, caracterizada pelo surgimento antecipado das mamas.


